O Dia da Consciência Negra (20 de Novembro) levanta discussões sobre a população negra e o combate ao racismo. Para esclarecer algumas questões ligadas ao tema, conversamos com Elizabeth Ferreira Lopes Moraes, Coordenadora de Promoção da Igualdade Racial de Vitória da Conquista.
Como o movimento negro está organizado em Vitória da Conquista? Quais são as políticas públicas existentes?
Está organizado em diversos movimentos sociais e políticos, através de departamentos, diretorias e coordenações, nos sindicatos, nas universidades, nas pastorais negras, nos conselhos, nos movimentos estudantis, culturais e de mulheres. Os mais representativos são os Agentes de Pastoral Negros e o Movimento Cultural Ogum Xorokê. As políticas públicas realizadas pelo Governo são ações afirmativas que buscam oferecer igualdade de oportunidades para todos e todas. As ações têm como objetivo reverter a representação negativa das negras (os); promover igualdade de oportunidades; combater o preconceito e o racismo.
As principais ações afirmativas são: Implementação da Lei 10.639 (obrigatoriedade do ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio); pré-vestibulares destinados a quilombolas, negros (as), indígenas e pessoas de baixa renda; Casa do Estudante Quilombola Zumbi dos Palmares; Conselho de Políticas de Promoção da Igualdade Racial; e Coordenação de Promoção da Igualdade Racial.
A sra. acha que a população está tendo mais consciência em relação às consequências e danos sociais provocados pelo racismo?
Sim. O número de denúncias vem crescendo, bem como o número de pessoas que estão conscientes dos direitos sociais promovidos pelas ações afirmativas. Essa nova postura da população negra requer uma compreensão mínima de que o modelo de hierarquização racial é produto da história colonial e resulta também de oportunidades negadas e da injustificável exclusão social que perdura até hoje.
As mulheres negras representam um quarto da população. Em 10 anos, o índice de homicídios entre as mulheres negras cresceu 54,2%. Já o homicídio entre mulheres brancas foi reduzido em 9,8%, segundo o Mapa da Violência 2015. A que isso pode ser atribuído?
Primeiro ao crescimento das denúncias. Segundo, em relação à invisibilidade das mulheres negras ao longo da história do Brasil. Por fim, a unidade estrutural entre racismo e sexismo faz com que a sociedade feche os olhos para a violência cotidiana contra as mulheres negras. A omissão e mesmo a reprodução das violências pelos homens negros agravam essa situação tão prejudicial para essa parcela da população feminina.
De que forma os trabalhadores podem combater o racismo dentro das organizações, uma vez que o número de negros dentro dos bancos é baixo (24,7%, de acordo com o II Senso da Diversidade) e poucos conseguem alcançar cargos de chefia?
Criando coletivos de combate ao racismo, nos Sindicatos, Federações e Confederações de trabalhadores dos setores bancário e financeiro, para promover o enfrentamento da discriminação e do preconceito na contratação de funcionários negros, e, na paridade salarial entre brancos e negros. Além disso, é necessária a promoção de ações de visibilidade da cultura africana e afro-brasileira, que não se restrinjam ao dia 20 de novembro.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento de toda a diretoria do SEEB/VCR.