A psicóloga e bancária da Caixa Econômica Federal, Anísia Tavares, fala nesta edição sobre questões ligadas à saúde mental da categoria, como o assédio, metas abusivas e também sobre a aposentadoria. Confira.
Como é ser psicóloga e conciliar suas atividades como bancária?
A minha abordagem é a psicologia clínica, e isso me permite uma maior flexibilidade. Eu atendo como psicóloga nos horários que não estou no banco. Além disso, concilio aulas e palestras que ministro com os horários do banco e de atendimentos no consultório.
Hoje os números relacionados aos afastamentos por transtornos psicológicos estão no topo, lado a lado com as doenças ocupacionais como as LER/DORT. Como a rotina, que inclui cobranças e metas inalcançáveis, influencia na saúde mental da categoria?
A atividade do bancário é carregada com uma pressão muito grande. São vários os fatores de risco: há pressão da chefia, excesso de horas extras/prolongamento de jornada, ausência de pausas, competição entre colegas, falta de perspectiva na empresa e a própria insegurança no trabalho, com o crescimento dos sequestros, assaltos em agências. A convivência diária com isso ameaça a integridade física e mental do trabalhador, e implica no surgimento de várias patologias, como a depressão, o pânico, o estresse pós-traumático, além dos sintomas que não se evidenciam como decorrentes do trabalho, como a perturbação no sono, dificuldade de concentração, irritabilidade, enjoos, tonturas, enfim, uma série de somatizações decorrentes de toda essa carga vivida no desempenho da atividade bancária.
As mulheres sofrem mais por estarem mais suscetíveis ao assédio moral e sexual?
Em nível de estatísticas precisas, ainda há muito que ser apontado no Brasil. Mas, há uma questão cultural, pois vivemos em uma sociedade machista, e o assédio moral e sexual é visto como poder e força por parte do agressor. Por isso, as mulheres ficam mais suscetíveis a sofrer esse tipo de abuso.
Como os bancos podem contribuir para o bem-estar do seu funcionário?
É preciso incluir a valorização da pessoa, da qualidade de vida. A sociedade está prestando atenção nisso, e alavanca também as empresas. Já existem organizações que contam com grupos vivenciais, nutricionistas, ginástica laboral, atividades de lazer dentro da própria empresa e também depois do horário de trabalho, com o incentivo ao esporte, por exemplo.
Está em discussão o PAA – Programa de Apoio à Aposentadoria, oferecido pela CEF? Como o bancário pode se preparar, psicologicamente, para a mudança em sua rotina, que costuma ser intensa?
O momento da aposentadoria é um rito de passagem, só que em nossa cultura ainda está muito vinculada ao envelhecer. Somos de uma cultura em que o sujeito contemporâneo é valorizado pelo que ele é capaz de produzir, e não tem tempo de refletir sobre si mesmo. Hoje o que vemos é muita gente que pode se aposentar por tempo de serviço continuar trabalhando por conta do significado do trabalho, que é uma questão subjetiva. O PAA deveria promover um olhar para a aposentadoria no sentido de que não há um fim. É preciso olhar como uma possibilidade de recomeço, um renascimento que pode ser privilegiado.
*As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.