Manoel “Mané Gabeira” Rosa, que será um dos palestrantes do X Congresso Regional dos Bancários, fala nesta edição d’O Piquete sobre o atual cenário político, a retirada de direitos dos trabalhadores e a atuação do movimento sindical. Confira.
Qual a sua opinião em relação ao afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha? O afastamento veio tarde e foi executado pelo STF, o que mostra o comprometimento e a relação de promiscuidade entre o então ex-presidente da Câmara e a maioria dos parlamentares, que mesmo sabendo das inúmeras falcatruas e mentiras de Cunha, sempre postergaram seu julgamento, tentando até o último momento absolvê-lo na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados.
Quais as possíveis consequências do impeachment da presidente Dilma para a classe trabalhadora? Os trabalhadores sofreram um golpe nos seus direitos. As associações patronais que apoiam o golpe como: Firjan, Fiesp, oposição de direita e o próprio programa do PMDB (“Ponte para o Futuro”), defendem como saída à crise reformas violentas contra os trabalhadores, como: reforma da previdência com idade mínima de 65 anos para homens e mulheres se aposentarem; terceirização nas atividades fins (todos os setores poderão ser terceirizados nas empresas); privatização de empresas públicas que têm um papel importante no desenvolvimento do país; e a criação da lei onde o negociado se sobreponha ao legislado (os acordos negociados poderão ser inferiores à Lei).
Como o Sr. vê a possibilidade da realização de novas eleições? Com o desgaste do governo golpista do sr. Temer, são válidas. Mas, o que importa neste momento, é a resistência contra a retirada de direitos dos trabalhadores. Para isso, precisamos de unidade e muita mobilização, pois nossas lutas serão longas e vão ter que contar com a solidariedade de todos os trabalhadores. Os golpistas contarão com oposição de direita, todos os setores patronais, a mídia e a maioria do judiciário para retirar conquistas históricas da classe trabalhadora.
Qual a avaliação que o Sr. faz a respeito dos ataques e a retirada de direitos dos trabalhadores nos últimos anos? Ao manter a mesma política econômica e não fazer as reformas estruturais que a esquerda defende, o governo não alterou a correlação de força a favor dos trabalhadores. Com o acirramento da crise e o aumento da pressão das elites, o governo Dilma fez a opção pelo mercado, que significou ataque aos direitos trabalhistas.
Como deve ser a organização dos trabalhadores e a atuação dos movimentos sindicais neste momento de crise política? Deve ser de resistência com denúncia, mobilização e luta contra a retirada de direito dos trabalhadores. Em contrapartida, dizer que uma saída da crise pela esquerda respeitará os direitos dos trabalhadores e proporá reformas em que os ricos paguem pela crise como: reformas tributária fiscal (onde os ricos paguem imposto sobre seu patrimônio e sua renda na mesma proporção que os assalariados pagam); reforma política com fim dos financiamentos empresariais nas campanhas, que hoje é o principal fator para corrupção e para a falta de compromisso e dos nossos parlamentares, que se elegem para defender seus financiadores com indicação de obras no governo ou projetos (o chamado balcão de negocio dos parlamentares); regulamentação da mídia, que hoje é dominada por um monopólio de cinco famílias da região Sudeste, e se acham no direito de escolher, enquanto poder autônomo, o que é melhor para o povo brasileiro, desprezando inclusive a democracia e a vontade soberana da maioria da nossa população.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.