Neste mês de outubro, acontece a campanha de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e mais recentemente sobre o câncer de colo do útero. Com o objetivo de trazer mais informações sobre esse tema, o Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista e Região entrevistou Thiago Novais, formado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia – UFBA, com formação na Residência de Cirurgia Geral e Mastologia, no Hospital Santo Antônio/OSID, Salvador/Ba. Atualmente é professor Auxiliar do Curso de Medicina da UFBA – IMS – CAT, em Vitória da Conquista e Médico Mastologista na Clínica ICON e no Hospital SAMUR.
Se preferir, confira a entrevista em áudio ao final desta página.
Qual a importância da campanha Outubro Rosa?
Estamos no Outubro Rosa, onde o mundo para alertar as mulheres a respeito dos perigos do câncer de mama e de todas as questões que passam por ele, porque o câncer de mama é o câncer mais comum nas mulheres depois dos cânceres de pele, e aquele que mais mata. Então é uma doença abrangente, o risco ao longo da vida da população em geral é em torno de 12,5%. Isso quer dizer que de 100 mulheres, 12 delas irão ter câncer de mama em algum momento da vida. Então, pelo fato de ser uma doença tão comum, pelo fato de ser a doença que mais mata as mulheres, é importante a sociedade parar para refletir a respeito dos cuidados que levam à detecção precoce e que levam também ao tratamento ótimo, e aumenta as chances de cura.
É possível prevenir o câncer de mama?
Quando nós falamos a respeito do câncer de mama, é importante falar que a gente não tem como prevenir 100% a ocorrência dele, né? Então, é um câncer dito não prevenível. Então, todas as mulheres estão sob o risco de em algum momento da vida ter o câncer de mama. O que nós podemos fazer é, primeiro, falar de hábitos saudáveis de vida, que diminuem o risco da ocorrência, e segundo, o que se pode ser feito para diagnosticar o câncer de mama o mais precocemente possível, porque quanto mais cedo ele é diagnosticado, maior a chance de cura. E quando nós falamos em diagnóstico precoce, nós falamos de mamografia, que é o principal exame utilizado no rastreamento do câncer de mama.
De que forma a mamografia pode auxiliar na detecção do câncer de mama? Quem deve fazer?
A mamografia deve ser realizada por todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade, todo ano, e naquelas pacientes que têm um risco genético aumentado, começa-se 10 anos antes da idade que o parente de primeiro grau ou a parente de primeiro grau teve câncer de mama. E o que que nós consideramos risco genético aumentado? Diagnóstico de câncer de mama antes dos 50 anos de idade, diagnóstico de câncer de mama, nas duas mamas, em qualquer idade; homem com câncer de mama – sim, é pouco falado, mas homens também podem ter câncer de mama -; e câncer de ovário em qualquer idade, porque a mutação genética que é associada a câncer de mama, também é associada ao câncer de ovário.
Com o advento da mamografia, a nossa ideia é descobrir o câncer na fase muito inicial, em que nem a mulher percebe a presença, a existência dele, e até mesmo o médico no exame físico não consegue detectar. Então seriam aquelas lesões ditas impalpáveis, porque geralmente elas são muito pequenas, e quanto menor a lesão, maior a chance de cura e menos intenso o tratamento necessita ser. Mas, naqueles casos, e principalmente, de doenças que são mais agressivas e que crescem mais rápido, ou a mulher que não se percebe muito, não tem esse hábito de perceber o próprio corpo, ele pode ter alguns sintomas, como nódulo endurecido na mama (é o principal); alterações de pele – pele projetada para fora, ou às vezes é o contrário, a pele retrai quando a mulher movimenta os braços, ou quando a lesão tem alguma apresentação específica que pode levar ao espessamento da pele, né, ou quando o nódulo está tão próximo que ele pode ficar aderido a pele, causando infiltração ou espessamento daquela área. Muitas pacientes reclamam de dor também, porém, a dor é o sintoma mais comum que leva as mulheres a procurarem um mastologista, e a existência de dor não está associada a uma chance maior de ter câncer de mama. A dor ela acontece de maneira igual em pacientes que tem e pacientes que não têm câncer de mama.
Então por que nós falamos tanto na detecção precoce e a mamografia é um exame que não evita a ocorrência do câncer?
O que nós queremos com a mamografia é descobrir o câncer numa fase bastante inicial. Por que? Quanto menor é a lesão, menor é a chance de que ela tenha saído da mama para outros órgãos e outras partes do corpo, como fígado, pulmão, cérebro e ossos e axila, quanto menor a ocorrência dessa saída em relação ao foco inicial na mama, maior a chance da paciente ter cura. E aí nós temos também alterações que são relacionadas a intensidade do tratamento necessário.
Então, uma lesão pequena necessita de uma cirurgia que é menor que uma lesão grande. Uma lesão, quando é descoberta numa fase inicial, às vezes a paciente não precisa passar por quimioterapia, a depender das características do tumor, quando o tumor não é muito agressivo. Logo, a gente aumenta a chance de cura, sem que seja necessário um tratamento tão agressivo assim. E por isso que nós sempre falamos sempre da necessidade de fazer mamografia rotineiramente, porque é um exame que é capaz de reduzir a intensidade do tratamento e aumentar a chance de cura ao mesmo tempo.
Quando a mulher deve procurar o mastologista?
Toda vez que a paciente se percebe com algo que é diferente daquilo que é habitual, a primeira coisa a se fazer é procurar um médico, preferencialmente um mastologista se ela tiver acesso direto, e aí o mastologista vai examiná-la, solicitar a mamografia, e frequentemente já solicitamos o ultrassom como exame complementar, porque ele nos traz informações adicionais. Quando essa lesão também é vista no ultrassom, ela é mais fácil de ser biopsiada do que quando ela é apenas vista na mamografia. A biópsia guiada por ultrassom é mais prática e é mais fácil de ser realizada, e mais fácil também de ser encontrada do que a biópsia realizada por mamografia. A partir daí, com a solicitação dos exames complementares – mamografia, ultrassom e, às vezes, quando a ressonância magnética das mamas é necessária (poucas vezes ela é utilizada, na grande maioria das vezes a gente consegue chegar ao diagnóstico apenas com mamografia e ultrassom) – o médico vai fazer uma avaliação do estágio inicial desse câncer, para então saber se o primeiro tratamento é cirúrgico ou se essa paciente merece ser encaminhada para outro tratamento inicial como a quimioterapia.
Como é realizado o tratamento do câncer de mama?
O tratamento do câncer de mama é multimodal e ele envolve cinco modalidades: a cirurgia, que é utilizada para todos os casos de câncer de mama já estabelecido; a radioterapia, que é utilizada toda vez que a paciente não retira a mama toda, ou seja, se é uma cirurgia que a gente chama de cirurgia conservadora – em que se retira a lesão, mas preserva a mama -, você tem que ter radioterapia, além de alguns outros casos quando se faz mastectomia, que precisa fazer radioterapia; a quimioterapia, que também é utilizada em casos selecionados, ou seja, nem todo casos são necessários fazer, mas a grande maioria ainda precisa de quimioterapia; a hormônioterapia, que é quando o câncer de mama expressa receptores que são estimulados pelos hormônios femininos, e aí você faz o bloqueio hormonal; e a imunoterapia, que é quando o câncer de mama expressa um tipo de receptor que está associado com o aumento da replicação das células de câncer, então você faz o bloqueio desse receptor para diminuir a chance de efeito adverso, da paciente vier a falecer de câncer de mama.
Os homens também podem desenvolver a doença?
O que pouca gente sabe é a relação do câncer de mama no homem. Homens também podem ter câncer de mama, numa proporção bem menor que de mulheres, uma proporção um pouco maior que 1 para 100. Você vai ter aí uma pequena quantidade dos casos totais que são relacionados a homem e esses casos estão associados a mutação genética de um gene chamado BRCA2, que especificamente é responsável por causar câncer de mama em homens e também em mulheres, mas é relacionado ao homem esse gene BRCA2.
E o que que leva à atenção? Como a glândula mamária é praticamente pouco desenvolvida nos homens, então quando a lesão começa a crescer ela já começa a apresentar sintomas rápidos, que vai ser basicamente nódulo endurecido e alterações relacionadas à pele, porque como a mama do homem é muito pequena, então ela já invade logo a pele. Então essa invasão acontece muito mais rápido do que acontece em mulheres. Há então aumento do volume mamário associado a alterações de pele com nódulo endurecido palpável em um homem, é uma lesão que ela é sugestiva clinicamente de câncer de mama. Lembrando que a maior parte das vezes em que a glândula mamária se desenvolve no homem, isso é uma questão benigna, é a ginecomastia que a gente chama. Então a glândula mamária pode se desenvolver do nada, com níveis hormonais normais. Pode se desenvolver porque a pessoa fez suplementação hormonal, o mais comum é com testosterona. Essa testosterona, que é convertida em hormônio feminino no tecido gorduroso, estimula o desenvolvimento da glândula mamária. Ou, pessoas que têm tumores de células germinativas que a gente chama, que são produtoras de hormônio ou masculino, ou feminino, e que levam a um aumento da glândula mamária, tá? Então, na maior parte das vezes em que a glândula mamária aumenta no homem, é uma doença benigna, mas, toda vez que ela aumenta é necessária a avaliação com mastologista para poder fazer essa diferenciação se é algo benigno ou se é alguma coisa suspeita de câncer.
As opiniões expressas não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.