Apesar de ainda está sendo formado, o novo governo já demonstra que as privatizações deverão ser o carro-chefe do programa. A criação da Secretaria de Privatizações, a nomeação de banqueiros do Santander e do Bradesco para as presidências do Banco Central e do BNDES, além do novo comandante da Petrobras, confirma a intenção de entregar qualquer estatal lucrativa para o capital privado. Tudo com o financiamento de banco estatal, com juros e prazos especiais.
Além da cara privatista, o presidente eleito já provoca problemas por suas declarações extremistas. A possível mudança unilateral da embaixada brasileira em Israel, que gerou um grande desconforto com o Egito e outros países, e o fim do acordo com o governo de Cuba para o Mais Médicos, com a saída de milhares de médicos cubanos que trabalhavam em áreas onde a grande maioria dos médicos brasileiros se recusam a atuar. Para tentar se justificar, Jair Bolsonaro declarou às mídias “que os cubanos eram escravos no Brasil” e que ele “não toleraria trabalho escravo no país”.
É preciso levar em consideração que entre janeiro de 2016 e agosto de 2017 foram libertados no Brasil 1.122 trabalhadores em condições análogas à escravidão, segundo dados do Ministério do Trabalho. Empresários do agronegócio, fazendeiros e empreiteiras são os principais responsáveis do trabalho escravo conforme lista dos autuados. Outra questão é a nomeação da futura ministra da Agricultura, Teresa Cristina, que era secretária do Governo do Mato Grosso do Sul e concedia benefícios fiscais à JBS ao mesmo tempo que alugava sua propriedade para a empresa em questão. Ela ainda é apontada como lobista de empresas de agrotóxicos e aceitou doações para sua campanha vindas do fazendeiro acusado de mandar matar o líder indígena Marcos Veron, também no Mato Grosso do Sul.
Ou seja: com as tentativas já anunciadas de acabar ou enfraquecer o Ministério do Trabalho, que tem a função de fiscalizar o trabalho escravo no país, e o perfil das nomeações já anunciadas fica quase impossível acreditar que este governo irá combater a escravidão entre os trabalhadores brasileiros. Falar de Cuba é fácil, mas vivemos aqui no Brasil.
Por Alex Leite,
diretor de Comunicação do SEEB/VCR.