O ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto, afirmou aos investigadores da Lava Jato que o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tinha relação de "bastante proximidade" com a Odebrecht e pedia apoio para "praticamente todas as operações" de interesse da maior empreiteira do país no banco.
Cleto foi indicado pelo grupo de Cunha para ocupar o cargo na Caixa e também fez parte do conselho do Fundo de Investimento do FGTS, opinando na liberação de recursos para empresas.
Em sua delação premiada, ele afirmou que o deputado recebeu R$ 42 milhões de propina da obra do chamado Porto Maravilha, maior intervenção de reurbanização do Rio de Janeiro por causa dos Jogos Olímpicos, que foi tocada pelo consórcio formado por Carioca Engenharia, Odebrecht e OAS.
Cleto confirmou a delação de donos da Carioca Engenharia, apontando que o total da vantagem indevida no empreendimento foi de R$ 52 milhões, paga em 36 parcelas. O FI-FGTS, usando recursos do fundo de garantia dos trabalhadores, aplicou R$ 3,5 bilhões nas obras do projeto.
O delator contou que, além de Cunha, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, chegou a cobrar rapidez no aporte para a obra, mas Cleto não fez considerações, em sua delação, sobre uma possível participação do prefeito no esquema.
Cunha é alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga um esquema de corrupção envolvendo o empreendimento. Ele já foi denunciado por supostos desvios na Caixa.
De acordo com o ex-executivo do banco estatal, o peemedebista chegou a "relatar que tinha sido uma negociação difícil com as empreiteiras", que alegaram já ter feito pagamento de propina anteriormente nesse projeto.
Investimento Direcionado
DISTRIBUIÇÃO DA PROPINA – Segundo a delação de Fábio Cleto
Segundo Cleto, chamava atenção a rapidez com que Cunha pedia para que projetos envolvendo a Odebrecht fossem aprovados. A empreiteira está no centro das investigações da Lava Jato e diretores também fazem delação.
"Que ao longo do tempo pode perceber a proximidade entre a Odebrecht e Cunha especialmente em razão da velocidade das respostas referentes à empresa e, ainda, da solicitação de apoio, feita por Cunha, a praticamente todas as operações que envolviam a Odebrecht no FGTS", cita o relatório da delação.
Cleto citou, por exemplo, que a empreiteira teria pago propina também no projeto Aquapolo, parceria entre a Sabesp (empresa paulista de saneamento) e a Odebrecht. Ele afirmou não ter detalhes, mas que acredita que "todo o pagamento de propina tenha sido feito pela própria Odebrecht e não pela Sabesp".
OUTRO LADO
Cunha nega ter atuado para beneficiar empresas e tem afirmado que "não recebeu e nem combinou com quem quer que seja qualquer vantagem indevida de nenhuma natureza".
Segundo Cunha, as acusações de Cleto são "histórias fantasiosas" e que ele, como é réu confesso, é quem deve responder pelas irregularidades que praticou.
A Odebrecht afirmou que não iria se manifestar.
Fonte: Folha