Conversamos com Rita Josina, presidente da AFBNB, para entender mais sobre a reestruturação anunciada pelo Banco do Nordeste no último dia 13. Confira.
Quais os impactos desta reestruturação para o BNB? Em nossa visão significa uma fragilidade diante do potencial da região e do importante papel que uma instituição pública regional de desenvolvimento pode desempenhar. Isso pode resultar na diminuição dos investimentos em áreas importantes de diversas economias locais até a retração de grandes negócios realizados pelo banco, o que sem dúvida impactará no resultado final de seu balanço. Contudo, nosso foco maior é a preocupação em torno do caráter desenvolvimentista do BNB, que não deve se guiar pela lógica da maximização do lucro e do ganho, mas sim em incentivar negócios estruturadores para o desenvolvimento da região, aumento da renda, além do próprio fortalecimento do banco e a consolidação de sua missão desenvolvimentista, que sabemos se dá no processo de longo prazo.
O BNB tem sido um banco que cumpre o seu papel social e ainda garante lucratividade. Neste cenário, de onde parte a necessidade de uma reestruturação no BNB? A AFBNB sempre defendeu a expansão do Banco com o aumento da quantidade de agências e uma maior capilaridade, de modo a atender a população. Assim, defendemos que qualquer reestruturação deva ser sempre no sentido de melhorar as condições de atendimento, de trabalho nas unidades do banco e também na melhoria da política de RH. Nas visitas que fazemos, principalmente nas agências do BNB no interior, temos observado e denunciado a falta de condições adequadas e necessidade de melhoria dos processos para o adequado exercício das atividades.
Além disto, questões como a isonomia, a dignidade previdenciária e de saúde, a convocação de concursados e a luta por um Plano de Cargos e Remuneração (PCR) digno têm sido pauta das lutas da AFBNB. Entendemos que essa deva ser a restruturação que o Banco necessita neste momento. Nos moldes como está sendo colocada, entendemos que a medida se trata de um revés estratégico com o objetivo de cumprir as determinações de uma política neoliberal, ora em curso.
O plano prevê o fechamento de 19 agências, aumentar as carteiras de negócio e investir no Agroamigo, que são terceirizados, sob uma justificativa de melhoria no atendimento ao cliente. Isso representa uma mudança no perfil do banco? Caso seja encaminhado dessa forma, haverá realmente uma mudança no perfil. Por isso é importante o diálogo no sentido de se fortalecer o banco que queremos e que precisamos. Na forma de terceirização e mudança nas carteiras negociais direcionadas por um viés não desenvolvimentista, caminha para a precarização e a fragilização de instituições públicas como o BNB. Ao lembrar a luta contra o aumento das terceirizações e o PL 4330 que a AFBNB encampou junto com outras entidades de trabalhadores, além da campanha em defesa dos bancos públicos e dos fundos constitucionais, caso do FNE, reafirmamos nosso posicionamento de que somos contrários a qualquer medida que represente ameaça ao banco, aos trabalhadores e à sociedade. Estes não podem pagar a conta de uma crise econômica que tem como único beneficiário o capital rentista. A AFBNB encaminhou ofício aos parlamentares da Bancada Nordestina alertando para o risco do fechamento de agências no sentido de articular um movimento maior em defesa do BNB e, da sua principal fonte de recursos, o FNE e da população.
Outro fator que preocupa os bancários dentro desta reestruturação, a instabilidade no emprego. De que forma tem sido realizada a negociação com o banco? O que também nos causa preocupação tem sido a forma como o processo vem se dando, do anuncio do fechamento das agências sem que se tenha dado conhecimento das etapas do processo e de como cada uma delas vai se processar. A realocação dos trabalhadores das unidades e as funções que cada um desempenha merece ser discutida e tratada com transparência e zelo. Muitos deles foram realocados há pouco mais de um ano dentro do processo de abertura das unidades, o que demandou um rearranjo na vida pessoal e familiar desses trabalhadores, com a proposta de que estariam contribuindo com a missão do banco naquela ocasião, diga-se de passagem, bem recente. A AFBNB vem acompanhando de perto esse processo, dialogando com sua base e os sindicatos locais na perspectiva de preservar as relações de trabalho, evitando prejuízos e em defesa dos trabalhadores do Bando do Nordeste.
No setor bancário temos visto uma política de desmonte dos bancos oficiais a partir dos planos de reestruturação anunciados pelo governo Temer para o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e mais recentemente o Banco do Nordeste. De que forma a reestruturação impactará a economia no Nordeste?
Sem dúvida que o impacto será negativo, não só para os trabalhadores, mas também para a economia regional. De sua parte o BNB opera em toda a Região e ainda nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, estimulando atividades importantes, seja no comércio, indústria ou na agricultura familiar. Indubitavelmente o desinvestimento nessas áreas, em um momento em que o Nordeste atravessa uma de suas piores crises com o prolongamento da seca, acentua a gravidade desse cenário. Os bancos e o Nordeste como um todo precisam de políticas públicas que incentivem a redução das desigualdades e a melhoria das condições de vida da população, seja por meio de incentivos fiscais, parcerias e outras atividades que gerem desenvolvimento econômico. Então, os cortes e o fechamento de agências, como está previsto vai na contramão dessa política de desenvolvimento.
Assim como nos outros bancos o plano de reestruturação não foi discutido com os funcionários. Como o banco tem realizado este processo?
Não tem realizado diálogo. A AFBNB já encaminhou ofícios no sentido de abrir a discussão diante das inquietações que tem chegado em torno dessa medida.
Nós lamentamos a falta desse diálogo, pois entendemos ser vital importância a discussão com seu maior patrimônio, os trabalhadores, as entidades representativas nos mais diversos fóruns da categoria, além da própria sociedade. A AFBNB tem chamado a atenção para que esses atores, além dos parlamentares no âmbito municipal se mobilizem, promovam atos, audiências públicas e outras ações que possam abrir a discussão e o diálogo. Certamente haverá saídas menos prejudicais.
As opiniões expressas no artigo não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.