Home / Antiga / “Fui eleita com uma maioria significativa dos votos”

“Fui eleita com uma maioria significativa dos votos”

""
Juliana Donato, eleita como representante do funcionalismo no Conselho de Administração do Banco do Brasil (Caref), fala nesta edição sobre o pleito e a tentativa de impugnação da sua candidatura pelo próprio banco. 

Qual a importância de haver um representante que realmente esteja em defesa dos bancários no Conselho de Administração do Banco do Brasil (Caref)?

Este projeto de banco público, a serviço dos trabalhadores e controlado por eles, é o que defenderei no Conselho. No entanto, sabemos que, por dentro do Conselho de Administração, com somente um representante eleito pelos funcionários, não podemos mudar os rumos do BB. Além de ser somente um, entre 8 membros indicados pelo governo e acionistas, o CAREF não tem acesso a inúmeras informações, pela alegada necessidade de “sigilo da empresa”, não pode divulgar as informações que obtiver sob o risco de sofrer sanções por parte do BB e da CVM e, o mais grave: não pode participar de decisões relativas a salários, benefícios, interesses do funcionalismo, pois a lei enquadra isto como “conflito de interesses”. Estranho é que o governo não veja conflito de interesses quando a diretoria do BB estabelece a sua própria PLR e o valor das suas aposentadorias, através da maioria que possui na PREVI. Portanto, como não acredito que possamos mudar o Banco por dentro do Conselho, quero que meu mandato esteja a serviço da organização dos trabalhadores para lutar por suas reivindicações, pois acredito que esta é a única forma de transformarmos o BB em um banco melhor para os funcionários e para a sociedade brasileira.

A senhora foi eleita, num pleito nacional, com 6.631 votos a mais que o outro candidato no segundo turno, mesmo sem apoio de grandes entidades sindicais, que, inclusive, defenderam a campanha do adversário. Como você avalia o posicionamento da categoria?

Os bancários estão cansados de representantes que estão mais preocupados em defender o governo do que em representar a categoria. Há uma enorme rejeição do governo entre os bancários. Muitos votaram em Dilma no segundo turno, achando que o governo do PSDB significaria, além de muitos outros ataques aos trabalhadores, a privatização dos bancos públicos. Mas, poucos dias após sua eleição, Dilma começou a implementar o programa do Aécio. Anunciou a intenção de abrir o capital da Caixa Econômica Federal, o que seria uma forma de privatização deste banco . Isso sem falar nas medidas que atacam direitos trabalhistas, do tarifaço e dos escândalos de corrupção. A resposta dos bancários foi votar contra o candidato apoiado pelos Sindicatos governistas da CONTRAF/CUT, em uma candidata independente do banco e do governo. A perseguição do BB contra mim só fez comprovar perante os bancários essa minha independência. Acredito que outro motivo para os bancários terem votado em mim foi o fato de eu ser mulher. O BB é um banco extremamente machista, que não tem nenhuma mulher em sua diretoria. Votaram em uma mulher lutadora para lutar contra o machismo no Banco.

Somente depois de inscrita como candidata, o Banco do Brasil instaurou um inquérito disciplinar solicitando a impugnação da sua candidatura e lhe aplicando uma suspensão de 20 dias. Quais foram os argumentos apontados pelo banco nesse processo?

O processo todo é um ataque à liberdade de organização sindical e também à liberdade de expressão. Não há sequer um questionamento sobre minha conduta profissional. Estou sendo punida por utilizar e-mails, redes sociais e reuniões com os colegas para organizar sua mobilização, especificamente contra um processo de reestruturação da área internacional, na qual trabalho, e que prejudicou muitos funcionários, com descomissionamentos, redução salarial, entre outros problemas. Em outras palavras, eu estou sendo punida por exercer a função de delegada sindical, para a qual fui eleita pelos meus colegas. No dossiê que o BB montou contra mim, para se ter uma ideia, consta a minha linha do tempo do Facebook desde o dia 01/10/2014 até o momento da instauração do inquérito. Eles anexaram exatamente todas as publicações. Muitas delas sequer citam o Banco do Brasil ou têm relação com ele. Mas são posicionamentos políticos meus, que incomodam a direção do BB. Acredito que o objetivo deles, ao aplicar uma punição como essa a uma representante sindical pelo exercício de suas funções é amedrontar os funcionários. Eles querem que nós abaixemos nossas cabeças para que eles possam cortá-las mais facilmente. Felizmente, a revolta que vejo entre os funcionários quando tomam conhecimento deste processo e da punição que recebi demonstra que o BB não conseguiu seu objetivo. Estamos com as cabeças ainda mais erguidas e os punhos levantados, prontos para a briga.

A decisão da eleição já havia sido homologada e publicada pela Comissão Eleitoral, controlada pelo BB, há interesse particular do banco em tentar revogar o resultado?

De uma coisa podemos ter certeza: eu era a última candidata que a direção do BB gostaria de ver eleita. Não porque eu, sozinha, possa enfrentar o Banco, mas pelo que eu represento. Eles tentaram impugnar a minha candidatura no 1° turno, utilizando como argumento o processo aberto por eles mesmos depois que eu fui inscrita. Um verdadeiro absurdo. Mas eu consegui uma liminar na Justiça do Trabalho, pude continuar concorrendo e fui eleita com uma maioria significativa dos votos. Agora, o BB negou-se a fazer um acordo para o arquivamento deste processo, ou seja, eles querem continuar questionando minha candidatura e, portanto, minha eleição, apesar do resultado já ter sido homologado. Eles perderam no voto e agora querem mudar, na Justiça, o resultado da eleição.

Veja Mais!

Violência contra mulher é física e social

" Só alcançaremos mudanças sociais com a participação ativa das mulheres "