A mal sucedida manobra no Congresso para anistiar políticos envolvidos com caixa dois, obrigou o presidente Michel Temer a contradizer um de seus principais ministros, o da Secretaria de Governo – para quem a idéia do perdão parecia até bem lógica.
O governo demonstrou nesta quarta-feira (21) que não está com o discurso muito bem afinado sobre a questão do caixa 2. O secretário de governo, ministro Geddel Vieira Lima, que é o responsável pela articulação política do governo, disse que caixa 2 não é crime e que quem fez isso no passado não deve ser punido. "O que eu lancei foi uma ideia, um debate. O Ministério Público enviou à Câmara, ao Congresso Nacional um projeto propondo a criminalização do caixa 2. E aí eu pergunto: se propõe a criminalização, é porque não é crime hoje? Se é crime hoje, para que se propõe a criminalização? E se vai se criminalizar hoje o que não é crime, quem cometeu no passado não tá sujeito a responder por crimes. É uma questão que eu coloco, não como jurista, mas em uma posição pessoal de alguém que está com raciocínio lógico, apenas para o debate. E debater, sobretudo no Congresso Nacional, ao que me consta, não é crime", disse Geddel Vieira Lima, ministro-chefe da Secretaria de Governo.
Por causa dessa declarações, o presidente Michel Temer teve de falar sobre o assunto em Nova York. E o tom dele foi bem diferente do ministro: "Em primeiro lugar, eu li as declarações do ministro Geddel e ele disse que era uma opinião personalíssima dele, que não envolvia nem a opinião do governo e, evidentemente, não envolvia a minha. Eu, pessoalmente – esta é uma decisão do Congresso Nacional – mas eu, pessoalmente, não vejo razão para prosseguir, prosperar nessa matéria. Pessoalmente, eu acho que não é bom. Não é bom para ninguém, mas eu vou chegar lá. Eu quero que esclareçam isso. Senão, parece uma interferência minha no Poder Legislativo e vocês sabem que eu não interfiro no Legislativo nessas matérias, nem no Judiciário", declarou Temer.
O assunto também foi objeto de debate na comissão que analisa as propostas de dez medidas contra a corrupção. Uma das dez medidas é justamente a criminalização do caixa 2 – que deixaria de ser tratado apenas como uma infração eleitoral, uma declaração falsa de campanha, como é hoje.
O presidente da Comissão de Combate à Corrupção, deputado Joaquim Passarinho, não acredita que a emenda será aprovada. "Eu tenho a certeza de que muitos deputados vão apresentar alterações para abrandar pena, punições. Mas eu acho que a grande maioria dessa casa, na hora de votar, com voto aberto, nós vamos votar a favor. Quero ver quem vai botar sua digital em amenizar pena pra corrupto", diz o presidente. Ele também disse que acha impossivel que alguém consiga separar uma das propostas das dez medidas e votá-la em separado, ainda mais com uma alteração como essa, com anistia para quem praticou caixa dois. Mas é sempre bom lembrar que a tentativa de aprovar essa anistia na última segunda-feira (19) teve o apoio, ainda que silencioso, de vários dos grandes partidos do Congresso.
Fonte: G1