BRASÍLIA – O Palácio do Planalto comemorou nesta quarta-feira, 20, a manutenção da taxa básica de juros em 14,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Nos bastidores, auxiliares da presidente Dilma Rousseff disseram que o momento é de "travessia" para a retomada do crescimento, a partir do segundo semestre, e, se os juros subissem, o pessimismo com a economia aumentaria na mesma proporção.
Ao mesmo tempo, porém, há uma expectativa sobre como o mercado financeiro vai receber a decisão do Copom. O governo sabe que poderá ser acusado de interferência na autonomia do Banco Central, embora desde terça-feira já houvesse ocorrido uma reviravolta nas previsões relativas ao comportamento dos juros, com a carta do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que a piora nas previsões do FMI para a economia brasileira seria levada em conta pelo Copom. A partir daí, a aposta do mercado, de alta de 0,5 ponto porcentual na Selic, passou a girar em torno de 0,25 ponto, com parte do mercado prevendo a manutenção da taxa.
Sob pressão, Tombini, ganhou pontos com o Planalto, com o PT e com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, mas tende a sair enfraquecido diante do mercado.
Na avaliação do governo e da cúpula do PT, a alta dos juros aprofundaria a recessão e o desemprego, podendo provocar a estagnação da economia. O ex-presidente Lula também disse a Dilma que o aumento da Selic não debelaria a inflação, uma vez que ela é preponderantemente provocada por custos, e não por demanda.
De qualquer forma, a decisão do BC não diminuirá a pressão do PT para que a Selic volte a cair. Para o deputado Paulo Teixeira (SP), um dos vice-líderes do PT na Câmara, o Copom agiu de forma "acertada", mas a medida não desmobilizará o partido nem as bases sociais, que devem continuar a cobrança para que a trajetória dos juros se torne descendente. "Acho que foi uma decisão de bom senso do Copom, mas temos de criar condições para baixar os juros, que continuam altos", afirmou Teixeira.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) também aplaudiu a decisão. Para o petista, uma eventual elevação da Selic passaria um "sinal péssimo" e iria contribuir para aumentar a recessão no País. "Ia ser uma barbeiragem no meio de recessão de dois anos aumentar a taxa de juros", disse o senador.
Dirigentes do PT chegaram a dizer que, se a Selic aumentasse, Tombini perderia as condições de permanecer no cargo. "A equipe precisa marchar no mesmo rumo. Não pode ter uma linha pelo crescimento e outra pelo desemprego", disse o secretário de Formação Política do PT, Carlos Henrique Árabe, antes da reunião do Copom.
Fonte: O Estadão