Os bancários do Banco do Nordeste continuam firmes na luta pela defesa dos direitos da categoria. A greve permanece por tempo indeterminado, e sobre os motivos da continuidade desta greve, conversamos com o diretor de Assuntos Jurídicos do Sindicato e bancário do BNB, Rodrigo Maia.
1 – Qual o balanço que você faz da mobilização até o momento, e por que os bancários do BNB continuam em greve?
Ainda não chegamos ao ápice do movimento, temos muito o que crescer. Não entendi porque o banco ofereceu uma proposta tão ruim frente a uma mobilização tão forte. Continuamos em greve porque essas propostas não atendem a nenhuma reivindicação da nossa minuta, e a única coisa que ela tem de razoável é o que os bancos privados conseguiram, que é o índice de reajuste salarial.
2 – Quais foram essas propostas apresentadas pelo BNB? Você poderia pontuar?
São propostas que atendem basicamente aos interesses do próprio banco, e são questões que eles já estariam atendendo por conta do judiciário ou porque já iam fazer pelos próprios interesses.
O aumento do quadro de pessoal já ia ser feito porque o BNB está ampliando o número de agências. Além disso, a questão da PLR está sendo tratada de forma muito obscura, muitos pontos não estão claros na proposta, o que seria um tiro no escuro se a gente tivesse aceitado da forma que está aqui.
O Vale Cultura e o Ponto Eletrônico não é uma conquista deste ano, e sim do ano passado, pois o banco só está correndo atrás agora porque há ações na justiça, e inclusive nossa base já tem todas as ações protocoladas.
Há também uma cláusula de suspensão das parcelas do CDC, que é um empréstimo dado aos funcionários, e o banco só quer fazer uma renegociação desta dívida. Isso diz respeito mais ao consumidor que também é funcionário do que à própria categoria.
Para as diárias houve apenas uma unificação das tabelas, o que é uma vantagem muito pequena, pois não houve aumento substancial. Em relação ao gerente de negócios PRONAF, foi uma luta que a gente teve por muitos anos, batemos muito nesta tecla nas mesas de negociação, e surpreendentemente o banco apenas cria uma forma de piorar a situação, com mais um nível de promoção baseado no desempenho da carteira, ou seja, mais uma forma velada da exploração da mão de obra. Para o caixa executivo a gente esperava que o banco criasse uma forma de incentivar o bancário a concorrer ao cargo, pois o que acontece atualmente é que ninguém quer concorrer, e o banco em vez de valorizar esse cargo, cria uma forma simplificada de seleção.
Há também uma cláusula muito obscura sobre a CAMED, que vai criar um fundo destinado a procedimentos médicos de alto custo, mas não fala quem vai custear isso. Disseram que o banco iria pagar, mas não tiveram coragem de escrever na proposta.
Além disso, o banco criou uma mesa temática de enrolação, que visa discutir o que já vem sendo discutido, e não se chega a lugar nenhum. A questão do PCR, por exemplo, não tem necessidade nenhuma de uma mesa temática, pois já temos o resultado de outras mesas e o documento está pronto, já está na minuta como anexo. Então basicamente a gente não recebeu proposta, exceto os índices que a própria Fenaban deferiu até aos bancos privados.
3 – Como o BNB tem se posicionado junto aos bancários após a rejeição da proposta e continuidade da greve?
Antes disso houve uma orientação, infelizmente, da própria mesa dos representantes dos funcionários, pela aceitação da proposta. Mas eu fiquei muito feliz porque a base não aderiu a esta orientação, que não representa a Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte, que votaram contra. Felizmente os bancários das outras unidades aceitaram a nossa sugestão, e continuaram na luta. Quando o banco ficou sabendo que até o Ceará não aceitou a proposta e continuou na greve, encaminhou um e-mail no dia seguinte, ameaçando os bancários e informando que entraria com o dissídio coletivo perante o Tribunal Superior do Trabalho, forçando os empregados a voltar no dia posterior. Os bancários se sentiram ameaçados, tem gente que recebeu ligações para retornar ao trabalho, e a gente já teve esse mesmo problema com o Banco do Brasil e o Bradesco, que nos levou ao Ministério Público do Trabalho. Isso só mostra que o banco não se preocupa com os funcionários, tomando atitudes às vezes piores que nos bancos privados, pois isso não é atitude de banco público.
Colocaram também neste e-mail a proposta que mantém a falta de isonomia, tanto que tem asterisco em algumas propostas. Quando a gente vai ler, percebe que a mudança só vai valer para os funcionários admitidos até 1988, o que é minoria. Não faz o menor sentido.
A única coisa que o banco fez questão de se destacar em relação à proposta dos bancos privados, diz respeito apenas à incapacidade decorrente de assalto. Esta foi a única coisa que o BNB fez de bom (se é que podemos chamar isso de bom), que a indenização da incapacidade decorrente de assalto aumentou de R$ 128.525,43 para R$ 139.450,09. Ironicamente, o banco não apresentou nenhuma cláusula de segurança que foi reivindicada por nós.
4 – Quais os próximos passos da mobilização?
A gente orienta os bancários a continuarem firmes na luta, pois se abaixarmos a cabeça a repercussão será muito negativa para os próximos movimentos no ano que vem, mostrando que perdemos força, e aí vai piorar o assédio. Várias unidades já fizeram assembleia depois deste e-mail absurdo, e ratificaram a continuidade da greve, como em Alagoas e Piauí. Na nossa base e no restante da Bahia, só haverá nova assembleia diante de nova proposta.