Por André Santos
A disparada de preços como os de alguns alimentos, verificada em 2020, deve ser uma tônica também em 2021. É o que mostra uma pesquisa de Expectativa de Inflação do Consumidor, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com o estudo, a população espera que o índice chegue a 5,2%, maior do que a meta prevista pelo Conselho Monetário Nacional (3,75%).
Segundo especialistas, o pessimismo das pessoas se justifica, em boa parte, pelo aumento dos itens de alimentação, das tarifas de serviços, como energia elétrica, e dos boletos dos planos de saúde.
Os alimentos, aliás, continuam sendo os campeões do custo de vida. De acordo com o site Mercado Mineiro, que fez levantamento de preços em sacolões da capital mineira, em janeiro, o chuchu, campeão entre os produtos que mais subiram, saltou 80% desde novembro: de um preço médio de R$ 2,14 para R$ 3,87.
Outro item que encareceu bastante foi o jiló: de R$ 4,54 o quilo, aumentou para R$ 5,92 (30% a mais) em intervalo de dois meses. Entre as frutas, a banana prata foi a que mais subiu, passando a custar R$ 6,75 contra R$ 4,25 há dois meses – aumento de 58%.
Para o economista e pesquisador Feliciano Abreu, do Mercado Mineiro, a tendência de alta deve continuar e o consumidor precisa estar atento às promoções para economizar. “Infelizmente, é essa a realidade e o consumidor precisa pesquisar muito para conseguir continuar comprando os mesmos itens, mas gastando menos”, explica.
O aumento da inflação em 2021 deve ser impulsionado também pelos reajustes de serviços, em especial as tarifas de energia elétrica e os planos de saúde. Ambos os setores tiveram preços congelados em 2020 por conta de medidas para minimizar os efeitos da crise econômica motivada pela pandemia da Covid-19. Mas isso acabou.
No fim do ano, por exemplo, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou as operadoras de planos de saúde a fazer correções. Elas podem e vão não só aplicar os reajustes previstos para 2021, mas cobrar acréscimos que não foram aplicados e se “represaram” no ano passado. Com isso, os planos devem subir em média de 15% a 20%, segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Outro item que deve insuflar o custo de vida é a energia elétrica. Desde o fim de 2020, os consumidores já pagam mais caros, mas em razão de taxas extras pelo estabelecimento das bandeiras vermelha (em vigor em dezembro) e amarela (que está sendo cobrada em janeiro). Para este ano, ainda deve haver reajuste.
A economista e professora das Faculdades Promove Mafalda Ruivo Valente acredita somente a promoção maciça da vacinação contra o novo coronavírus pode vir a garantir condições para conter tais altas de preços.
Pesquisa de preços e boicotes são receitas para matar “dragão”
Com a alta de preços dos alimentos, a solução encontrada pelos consumidores tem sido pesquisar e até mesmo deixar de comprar itens que tiveram reajustes muito elevados nos últimos meses. Afinal, a pesquisa do Mercado Mineiro mostrou variações de 100% a mais de 300% nos preços de diversos produtos de sacolão, na Grande BH.
Essa tem sido a solução adotada pela dona de casa Magda Godinho. Moradora de Contagem, Magda viu os gastos semanais com comida saltarem de R$ 100 para R$ 130, em poucos meses. Assim, passou a anotar os valores em cada estabelecimento e a gastar mais tempo na hora de ir às compras. “Tenho que ir a mais de um local para comprar tudo, mas, em compensação, levo todos os itens pelos preços mais em conta da região”, explica ela.
Outra tática adotada por consumidores é a de trocar produtos mais caros por outros, mais baratos e que possam substituí-los. Para a presidente do Movimento das Donas de Casa em Minas Gerais (MDC/MG), Solange Medeiros, a receita da troca é antiga e gera resultados. No entanto, Medeiros vai além e recomenda que os consumidores deixem de comprar itens com os preços “muito fora do normal”.
“O consumidor tem um grande poder, que ele mesmo não imagina. Quando deixamos de comprar um produto que está com o preço muito alto, além da conta, os valores normalmente caem. E isso acontece porque os produtos ficam encalhados. Deixar de comprar é uma arma para fazer baixar os preços”, garante a presidente do MDC/MG.
Foto: Maurício Vieira
Fonte: Jornal Hoje em Dia (MG)