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Inflação é desculpa para manter juros altos

 O Banco Central afastou a possibilidade de corte na taxa básica de juros (Selic) e usou pressões inflacionárias como justificativa. Atualmente, o índice, usado para remuneração dos títulos da dívida pública, está em 14,25% ao ano – um dos mais altos do mundo e responsável pelos juros cobrados do consumidor serem tão caros. Economistas afirmam que usar as tais pressões inflacionárias é mera desculpa a fim de manter alta a remuneração aos detentores de grandes volumes de títulos da dívida pública, formado principalmente por banqueiros e outras fortunas financeiras.

Amir Khair, mestre em economia pela Fundação Getúlio Vargas, destaca que 35% do total do peso do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), usado pelo IBGE para medir a inflação, refere-se a alta de preços de serviços; 25% afere bebidas e alimentos; e 20% são relativos a tarifas públicas. Três grupos que perfazem 80% do IPCA. “Esses três grupos não são sensíveis à Selic. Os preços dos alimentos respondem mais ao problema climático, e as tarifas públicas são decisões de governo, portanto não passam pela porta do Banco Central”, diz Khair.

O economista Eduardo Fagnani descarta a tentativa de baixar os juros, colocada em prática pela então presidenta Dilma Rousseff a partir de 2012 – naquele ano a taxa chegou a 7,25% –, como responsável pela alta da inflação verificada nos últimos meses. O recente aumento dos preços, de acordo com Fagnani, tem origem na desvalorização do real frente ao dólar, que encareceu os produtos importados; na elevação de uma vez só das tarifas públicas depois de anos sem reajuste; e porque as tarifas de todos os setores privatizados foram prefixadas em contratos com reajustes altos.

Para ele, o responsável por essa ciranda de alta nos juros para frear a inflação tem origem na política conhecida como tripé macroeconômico, aplicado desde 1999 e formado por metas de controle da inflação, câmbio flutuante e superávits fiscais primários (economia do governo para pagar os juros da dívida pública).
“Só tem uma bala para combater a inflação [com essa política] que é o aumento da taxa de juros. A única função desse tripé é preservar a riqueza financeira”, critica Fagnani. “Esse regime é condenado até pelo FMI. Foi consenso na década de 90, mas hoje o mundo discute formas de flexibilização, enquanto no Brasil querem torná-lo ainda mais ortodoxo.”

A função do Banco Central brasileiro também é criticada por Fagnani. Ele lembra que nos Estados Unidos o Fed (Banco Central daquele país) tem a missão de controlar a inflação junto com a preservação dos empregos, diferentemente do Brasil, onde o BC só tem de focar no combate à alta de preços. “O que o Banco Central está fazendo para frear a inflação é deliberadamente o aumento do desemprego. Se tem desemprego, cai o poder de compra das pessoas e junto a inflação. O objetivo não é fazer a economia crescer. Isso é conversa mole. O objetivo é gerar recessão para fazer a inflação ir para o centro da meta.”

O economista Ladislau Dowbor lembra que o ciclo hiperinflacionário rendia muitos ganhos aos bancos, mas com a quebra desse sistema, em 1993, a compensação que se deu foi criar, em 1996, o sistema de taxa Selic. A Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) permite aos bancos usar o dinheiro aplicado pela população nas poupanças, que rende ao correntista cerca de 6% ao ano, para comprar títulos da dívida pública, que chegaram a ser remunerados pelo Tesouro a 45%, ante uma inflação de 12% ao ano. “É um sistema em que você convence o governo de que é mais fácil se endividar junto aos bancos do que fazer uma reforma tributária e cobrar impostos de forma progressiva [os mais ricos pagam mais]. De qualquer maneira, a população termina pagando, porque os impostos não vão ser usados para financiar infraestrutura e políticas sociais como educação, saúde e segurança, e sim para remunerar os títulos da divida pública.”

 

Fonte: Sindicato dos Bancários de São Paulo

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