Historicamente, a seleção da França (que acaba de sair campeã na Rússia), nutriu suas escalações com imigrantes e filhos de imigrantes. O governo francês os persegue e os expulsa, mas Macron constrói um imaginário de unidade nacional em meio a alegria futebolística. Xenofobia e colonialismo a seu serviço.
Haitianos, senegaleses, malienses, argelinos…
No começo do segundo tempo da semifinal entre França e Bélgica se via um Emmanuel Macron efusivo festejando o gol de Samuel Umtiti, o defensor da seleção francesa de futebol nascido em Camerún em 1993.
82% dos jogadores da seleção francesa de futebol, que acaba de vencer a Croácia na final do mundial de futebol na Rússia, tem uma origem para além das fronteiras da França.
Somente quatro dos seus 23 jogadores tem pai e mãe nascidos na França continental, entre eles o seu capitão, o goleiro Hugo Lloris.
Kylian Mbappé, uma das figuras deste mundial, é filho de pai camaronense e mãe argelina. Outros doze jogadores também tem ascendência africana: Ousmane Dembélé é de pai maliano e mãe de ascendência senegalesa e mauritana; Paul Pogba é filho de guineanos, Nabil Fekir, de argelinos. N’Golo Kanté e Djibril Sidibé, de ascendência maliana. Benjamin Mendy, de senegaleses. Blaise Matuidi, de angolanos, Adil Rami, é filho de marroquinos, mas criado no Congo. O pai de Steven Nzonzi é também da República Democrática do Congo.
Outros, como Varane e Lemas são de ascendência das Antilhas francesas (Martinica e Guadalupe). Presnel Kimpembe tem mãe haitiana. Alphonse Areola, filho de filipinos, será o único de origens asiáticas.
Porém todos eles nasceram na França. Junto com Umtiti, o goleiro reserva Steve Mandanda, nascido na República Democrática do Congo, são os jogadores que nasceram fora do país.
Todos recordam o episódio protagonizado por Zinedine Zidane, de origem argelina, no mundial de 2006, que terminou expulso na final por responder a um insulto por sua ascendência com uma cabeçada, ainda que ele tenha nascido em Marsella.
A política anti-imigratória por trás dos falsos gestos de alegria
A hipocrisia de Macron tem um recente antecedente quando ele outorgou cidadania para Mamoudou Gassama, um jovem de origem do Mali, logo que viralizou um vídeo dele salvando a vida de um garoto que estava a ponto de cair de uma sacada, há pouco mais de um mês atrás.
Porém, não há como esconder a perseguição do governo imperialista francês contra os imigrantes, especialmente da África e do Oriente Médio, prendendo-os em centros de detenção para migrantes em condições desumanas, como no “La Jungla”, perto da fronteira com o Reino Unido, desmontando suas tendas nas ruas de Paris ou diretamente expulsando-os sob ameaça de terrorismo.
Já fazem vários meses que o governo de Macron vem preparando uma lei que propõe acelerar os procedimentos de expulsão dos que não conseguirem demonstrar que são refugiados e de outros “imigrantes econômicos” que não tenham a documentação em ordem, entre outras coisas, com acordos de seus países de origem para sua repatriação e também prolongando o período de detenção administrativa por 90 dias.
Somente durante 2017 foram expulsos da França 26.000 pessoas, 14% a mais que no ano passado, sob o governo “socialista” de François Hollande. Durante o primeiro ano de Macri como presidente o número de estrangeiros rechaçados na fronteira ao tentar entrar na França disparou, cresceu 34%, de 63.732 em 2016 para 85.408 em 2017.
No começo do ano o presidente visitou o centro de imigrantes de Calais, e sem ter que invejar muito a Frente Nacional, se gabou por ter expulsado imigrantes e apoiou a repressão policial contra estrangeiros, e disse: “Não deixarei ninguém caricaturar o seu trabalho”, sobre as brutais ações policiais nesses centros.
Há alguns dias ficou conhecido o acordo entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês para a política migratória da União Europeia, na qual propõem endurecer as medidas contra a imigração na Europa, reforçando as fronteiras externas da União Européia e impedir que os imigrantes possam pedir asilo em países distintos, senão somente no país de entrada.
Para Macron, aumentar o número de efetivos do Frontex, a agencia comunitária de militarização fronteiriça, com o fim de conseguir uma “verdadeira política de fronteiras europeias”, baseada em fortalecer as medidas repressivas é a solução para a imigração que escapa da fome, da miséria produzidas pelas guerras imperialistas em seus países de origem,
Mas por um tempo, o presidente da colonialista França veste a camiseta da seleção nacional e comemora o seu triunfo, construindo uma imagem ilusória de “unidade nacional”. Durará pouco. Nos bairros da periferia parisiense, nessa noite os filhos dos imigrantes continuarão sendo perseguidos pela polícia ou diretamente expulsos em suas fronteiras.