“Taxação BBB” e críticas a Trump, Tarcísio e à aliança de bilionários e banqueiros dominam atos em diversas capitais; mobilização ganha força com tarifaço anunciado por Trump contra produtos brasileiros

Em um dos maiores dias de mobilização social do ano, milhares de pessoas saíram às ruas em dezenas de cidades brasileiras nesta quinta-feira (10) para exigir a taxação de super-ricos, o fim da escala de trabalho 6×1 e justiça tributária. Batizada informalmente de “Taxação BBB” — sigla para Bets, Bancos e Bilionários —, a jornada de lutas ganhou novo impulso com o anúncio de Donald Trump, na véspera, de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros como chantagem pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os atos foram convocados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, com apoio de centrais sindicais como CTB, CUT, Intersindical e UGT, e movimentos sociais ligados à classe trabalhadora. Parlamentares do PCdoB, PSOL e PT participaram das mobilizações, que ocorreram simultaneamente em capitais como São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, Florianópolis, Curitiba, São Luís, Vitória e outras cidades.
Avenida Paulista: epicentro do protesto e críticas a Trump e Tarcísio
Na capital paulista, a avenida Paulista voltou a ser tomada por manifestantes com faixas, cartazes e palavras de ordem direcionadas a bilionários, banqueiros e ao ex-presidente americano Donald Trump, cujas ameaças de retaliação comercial impulsionaram a revolta. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também foi alvo frequente dos gritos de protesto: “Tarcísio vira-lata” e “Paulista não é colônia” ecoaram sob o vão do Masp.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) sintetizou o sentimento: “Enfrentar o frio de São Paulo para lutar contra a injustiça tributária e a ameaça imperialista de Trump aquece o coração de quem acredita no Brasil soberano.”
O ato, que começou às 18h, reuniu milhares de pessoas entre as ruas Pamplona e Plínio Figueiredo. Entre os presentes estavam os deputados Rui Falcão (PT-SP) e Guilherme Boulos (PSOL-SP), que discursaram em defesa da taxação progressiva e do fim da jornada 6×1, considerada pelos manifestantes uma herança escravista.

Pauta se espalha pelo país: justiça tributária e trabalho digno
Em Brasília, o ato começou ainda pela manhã na Rodoviária do Plano Piloto. Em Belo Horizonte, a tradicional Praça 7 foi ocupada por sindicalistas e jovens. No Rio, a manifestação se concentrou em frente à Bolsa de Valores, denunciando a financeirização da economia e a evasão fiscal dos super-ricos.
Em todas as cidades, duas perguntas guiaram o plebiscito popular promovido pelos organizadores:
- Você é a favor da redução da jornada de trabalho sem redução de salário e do fim da escala 6×1?
- Você é a favor de que quem ganha mais de R$ 50 mil por mês pague mais imposto de renda para que quem recebe até R$ 5 mil fique isento?
Mesas de votação foram montadas nos locais dos atos, onde os manifestantes puderam votar e debater as propostas com militantes dos sindicatos e das frentes populares.

“BBB”: bancos, bilionários e casas de apostas no alvo
A mobilização popular apontou a necessidade de reverter a atual estrutura regressiva da carga tributária brasileira, que pesa sobre os mais pobres enquanto protege os mais ricos. O mote “Taxação BBB” expôs três alvos prioritários: bancos, bilionários e o setor das bets — casas de apostas esportivas que movimentam bilhões no país com baixa tributação e escassa regulação.
“A classe trabalhadora não aguenta mais sustentar sozinha o orçamento do Estado. O Brasil é um dos países que menos tributa os lucros e dividendos. Está na hora de inverter essa lógica”, afirmou um representante da CUT durante a manifestação em Salvador, onde a Estação da Lapa reuniu cerca de 5 mil pessoas.

Reação a Trump revela mudança no tom do movimento social
Embora a pauta central dos atos fosse a justiça tributária, o anúncio do tarifaço de Trump colocou o ex-presidente norte-americano no centro das críticas. Em São Paulo, manifestantes se fantasiaram de Trump e Bolsonaro em performance simbólica que denunciava a subserviência do bolsonarismo aos interesses estrangeiros.
“Trump é o rosto da guerra econômica contra o Brasil. A elite brasileira quer um governo que se curve a isso, mas o povo está dizendo: chega!”, disse Guilherme Boulos ao público na Paulista.
A retaliação anunciada por Trump foi entendida por muitos como uma tentativa de intimidar o governo Lula por defender a desdolarização no BRICS e fortalecer o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), presidido por Dilma Rousseff.

Mobilização continua: Guarulhos e novas cidades no sábado
A jornada de mobilizações terá continuidade no sábado, 12 de julho, em cidades como Guarulhos (SP), onde haverá protesto às 11h na Praça Getúlio Vargas. Os organizadores pretendem manter a pressão por uma reforma tributária progressiva e pela revogação de medidas trabalhistas que aumentam a precarização.
Fonte: Vermelho