Home / Raça e Etnia / Mercado de trabalho reproduz desigualdade racial, aponta Dieese

Mercado de trabalho reproduz desigualdade racial, aponta Dieese

O mercado de trabalho ainda é espaço de reprodução da desigualdade racial, não apenas a inserção, mas as possibilidades de ascensão são desiguais para a população negra. A análise é do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), entidade criada e mantida pelo movimento sindical brasileiro, e os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Dados compilados pela entidade revelam que a taxa de desocupação dos negros é sistematicamente maior do que dos demais trabalhadores. Apesar de representar 56,1% da população em idade de trabalhar, os negros correspondem a mais da metade dos desocupados (65,1%).

Estes dados estão no “Boletim Especial 20 de novembro – Dia da Consciência Negra” divulgado pela entidade na última sexta-feira (17). E também neste mapa, divulgado no segundo trimestre de 2021.

A análise foi feita com base nos dados do 2º trimestre de 2023, da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE.

Desocupação dos negros

A taxa de desocupação dos negros é de 9,5%, sendo 3,2 pontos percentuais acima da taxa dos não-negros. No caso das mulheres negras, que acumulam as desigualdades de raça e gênero, a taxa estava em 11,7%.

O Dieese apontou que a inserção das mulheres negras no mercado de trabalho é mais difícil, mesmo no contexto atual de melhora da atividade econômica.

Para base de comparação melhor, a entidade lembrou que, no segundo trimestre de 2021, durante a crise econômica da pandemia de covid-19, a taxa de desocupação dos trabalhadores não-negros atingiu este mesmo percentual (11,7%).

Mercado de trabalho reproduz desigualdades sociais

“Mesmo com a indicação do crescimento da atividade econômica, o mercado de trabalho continua reproduzindo as desigualdades sociais. Os trabalhadores negros enfrentaram mais dificuldades para conseguir trabalho, para progredir na carreira e entrar nos postos de trabalho formais com melhores salários. E as mulheres negras encaram adversidades ainda maiores do que os homens, por vivenciarem a discriminação por raça e gênero”, concluiu o relatório do Dieese.

Quando conseguem ocupação, as condições impostas aos negros são piores. Segundo avaliação do Dieese, em geral, essa parcela da população consegue se colocar em postos mais precários e têm mais e maiores dificuldades de ascensão profissional.

Estatísticas avassaladoras

Apenas 2,1% dos trabalhadores negros — homens ou mulheres — estavam em cargos de direção ou gerência. Entre os homens não-negros, essa proporção é de 5,5%.

Isso significa que apenas 1 em cada 48 trabalhadoras/es negros está em cargo de direção ou gerência, enquanto entre os homens não-negros, a proporção é de 1 para cada 18 trabalhadores.

A proporção de negros empregadores também é menor: 1,8% das mulheres negras eram donas de negócios que empregavam funcionários, enquanto entre as não-negras, o percentual foi de 4,3%. Entre os homens negros, o percentual ficava em 3,6%; entre os não-negros, a proporção foi de 7%.

Informalidade maior entre negros

A informalidade é maior entre os negros. Quase metade (46%) dos negros ocupados estava em trabalhos desprotegidos, ou seja, empregados sem carteira, trabalho por conta própria, com empregadores que não contribuem para a Previdência ou trabalhadores familiares auxiliares. Entre os não-negros, essa proporção foi de 34%.

1 em cada 6 (15,8%) mulheres negras ocupadas trabalha como empregada doméstica, uma das ocupações mais precarizadas em termos de direitos trabalhistas e reconhecimento. As trabalhadoras domésticas negras sem carteira recebiam, em média, R$ 904 por mês, ou seja, valor R$ 416 abaixo do salário mínimo em vigência.

“Na construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida, não se pode deixar que mais da metade dos brasileiros seja sempre relegada aos menores salários e a condições de trabalho mais precárias apenas pela cor/raça ou pelo gênero”, apontou a entidade.

O levantamento revelou ainda que o fato de os negros estarem em maior proporção em postos de trabalho informais e com menor remuneração explica apenas parte da diferença de remuneração entre negros e não-negros.

No segundo trimestre de 2023, os negros ganhavam, em média, 39,2% a menos que os não-negros.

Sempre em desvantagem

Mesmo quando comparados os rendimentos médios de negros e não negros na mesma posição na ocupação, os negros estão em desvantagem. Em todas as posições analisadas, o rendimento dos negros é menor.

Segundo o Dieese, isso é evidência de que, além das desigualdades de oportunidade, os negros enfrentam tratamento diferenciado no mercado de trabalho.

De acordo com o Dieese, é necessário amplo trabalho de sensibilização para que todas as políticas públicas sejam desenhadas e implementadas com o objetivo de atacar o problema das desigualdades, especialmente no mercado de trabalho. “O caminho a ser percorrido é longo, mas o trajeto precisa ser feito com determinação e agilidade”, finalizou.

Fonte: DIAP.

Veja Mais!

A luta por igualdade de gênero é essencial para a América Latina

A igualdade de gênero e raça na América Latina é vital para o progresso social. …