O sindicalista Adilson Araújo resumiu o cenário para os trabalhadores brasileiros após a edição da Medida Provisória 936 do Governo Federal: “Quando a gente pensa que as coisas estão ruins, o presidente Jair Bolsonaro consegue piorar”. A MP autoriza a redução de jornada e redução de salários negociados em acordos individuais entre empregador e trabalhador sem a presença dos sindicatos.
Para Adilson, que é presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, socorrem apenas os empresários e os banqueiros enquanto o remédio amargo fica para o trabalhador.
“Achamos oportuno socorrer empresas através de financiamentos, isenções, desoneração mas que do lado do trabalhador fossem tomadas medidas com vistas a um fundo emergencial para proteger as famílias daqueles que estão desempregados, na informalidade e em subempregos. Mas a resposta do governo é seguir precarizando o trabalhador”, explicou Adilson.
Ele criticou a demora no pagamento da renda emergencial aprovada pelo Congresso no valor de 600 reais para trabalhadores informais. “O presidente segue enrolando. Chega a ser cruel o trato com uma coisa que lida com a vida das pessoas”, comparou Adilson. “Ao contrário do presidente, as Centrais Sindicais querem preservar a vida do povo e lutar pela defesa dos empregos e da renda da população”.
Fortalecer o acordo coletivo
Nesta quinta-feira (2), as centrais sindicais divulgaram nota conjunta em que repudiam os acordos individuais. Com o título “O acordo coletivo é fundamental para superar a crise” a nota reivindica a “inclusão dos sindicatos em todas as negociações que ocorrerem durante a vigência do estado de calamidade pública estabelecido devido ao Covid-19”.
Artigo 7º da Constituição Federal impede a redução salarial, salvo acordo coletivo. A inconstitucionalidade da MP do governo federal foi denunciada por advogados e entidades como a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra). De acordo com a entidade, a MP “afronta a Constituição e aprofunda a insegurança jurídica já decorrente de outras mudanças legislativas recentes”. A nota da Anamatra afirma também, entre outros argumentos, que a MP insiste em acordos individuais entre trabalhadores e empregadores e colabora para “o rebaixamento do padrão salarial global dos trabalhadores e das trabalhadoras”.
Diálogo com Congresso Nacional e Estados
Adilson não tem expectativas no diálogo com o atual governo e muito menos com a classe empresarial. “O presidente é hostil aos movimentos sociais, aos sindicalistas, trabalhadores, mulheres, negros e indígenas. Essa turma dos empresários não quer dialogar. Querem aproveitar que o presidente é aliançado com o mercado para reduzir o custo do trabalho e aumentar a cesta de lucros dele”.
Para Adilson, o diálogo deve ser através do Congresso Nacional e com os governadores no Estados. “O governo não governa e o Congresso passa a exercer o protagonismo e tem permitido um certo trânsito. Vamos dialogar com parlamentares e governadores e buscar alternativas não só para atender o pleito dos trabalhadores mas também buscar certa estabilidade para o país”, complementou Adilson.
De Chicote na mão
Ele mencionou o exemplo da Argentina que garantiu a estabilidade nos empregos por dois meses. “A nossa luta também busca que a estabilização seja possível diante do momento crítico. Se tem socorro para as empresas porque não cobrar a estabilidade ao trabalhador durante a epidemia?”.
Adilson conclui dizendo que a MP dá poder ao patrão de exercer o gerenciamento da atividade laboral com o chicote na mão. “Não vamos permitir. É necessário que se respeite a negociação. Os sindicatos cumprem o papel legítimo de representantes da classe trabalhadora e está comprovado que os trabalhadores e trabalhadoras são a força motriz do desenvolvimento do país e merecem respeito”.
Fonte: CTB