Nesta edição nós convidamos a bancária Islânia Ameida, do BB, para falar sobre inclusão e as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência nas agências e na sociedade.
Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência que trabalham nos bancos? Eu sempre digo que a primeira dificuldade que o deficiente enfrenta é o colega, não porque não queira incluir, mas porque há o medo do diferente. Então, às vezes esse colega fica preocupado demais com este deficiente, fica receoso e isso acaba sendo um empecilho à comunicação e amizade. Graças a Deus minha turma é muito boa, as pessoas me incluíram rapidamente, mas eu percebo que há esse medo, o que é absolutamente normal. Só que é preciso quebrar essa barreira e encarar que o outro é igual a você. Eu percebo que o BB se preocupa muito com esse tipo de acessibilidade que é espacial. Tem o Ecoa (Equipes de Comunicação e Autodesenvolvimento), que é fantástico e o SESMT (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho), que tem um papel fundamental nesse aspecto. Outra dificuldade que eu senti foi a respeito do equipamento, que é caro, de difícil acesso e é complicado esperar chegar. Além disso, demoram para instalar, e às vezes ocorre algum problema na instalação. Fiquei um mês praticamente sem conseguir fazer muita coisa. Foi uma série de dificuldades, por ser muito novo. Eu sou a terceira deficiente a tomar posse na Bahia.
Além do ambiente bancário, quais são os obstáculos relacionados à forma como a sociedade lida com as pessoas com deficiência? O principal para mim é a locomoção. As ruas e passeios são irregulares, têm toldos de lojas, galhos de árvores, e como a bengala pega o relevo do chão, tudo que está do ombro para cima a gente não tem nenhum tipo de contato. Sobre os ônibus, existe um mecanismo que já é utilizado em algumas cidades do Paraná em que você chega em um terminal eletrônico, diz para onde quer ir e ele te informa quanto tempo demora e quando o ônibus está próximo ele avisa para o motorista que naquele ponto específico tem uma pessoa com deficiência. Mas essa é uma realidade muito restrita. Conquista ainda precisa de um sistema que oriente a gente melhor nisso. Ainda bem que já temos, por exemplo, um sistema de telefone que você liga para saber qual vai ser o próximo ônibus, essas coisas já ajudam. Tem também a universidade, que é um espaço muito grande, de difícil acesso e sem trilha tátil. Ainda tem gente que comete alguns equívocos como construir uma trilha que dá para um poste e o deficiente acaba se batendo ou tendo que desviar sem entender. É interessante falar isso para as pessoas entenderem que a trilha tátil precisa ficar livre.
Você acha que a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência tem sido bem aplicada em nosso país? Eu percebo duras críticas feitas por amigos meus em relação às empresas privadas que contratam deficientes. Normalmente elas solicitam deficientes que tenham deficiência mínima, como um leve problema na perna, algo que não seja muito visível, que não limite em muitos aspectos. Então elas geralmente fazem uma seleção que é extremamente excludente. Eu percebo também que a maioria das pessoas com deficiência querem um emprego público, pois sentem que em outra área vão ser muito mais discriminadas, excluídas. São notáveis também os problemas na universidade, por não ter apoio para a continuidade de curso. Na biblioteca os materiais são em tinta, é muito difícil você achar um livro em braile.
Qual a importância do Sindicato para a defesa dos direitos dos trabalhadores? O Sindicato tem um papel fundamental e traz uma coisa muito interessante que é a união entre os trabalhadores de diversos bancos. Isso é muito importante, porque quando uma categoria se une, ela fica muito mais forte. Não quero lutar apenas pelos meus direitos como deficiente, para que o banco tenha isso ou aquilo, porque vai ser melhor para mim. O Sindicato traz essa visão coletiva de não olhar só para o que você precisa, mas para o que toda a categoria está pensando naquele momento. Isso é lindo e não pode acabar nunca.
Confira a entrevista completaem áudio no facebook: https://www.facebook.com/bancariosvdc/videos/1597818137177548/
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.