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“Nesse momento a prioridade da gestão da CEF tem sido a abertura das agências e não a vida dos trabalhadores”

Nesta semana entrevistamos Emanoel Sousa, secretário Geral da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, sobre a Caixa Econômica e a pandemia.

Como o sr. avalia a mudança nos protocolos em relação à contaminação por Coronavírus na Caixa Econômica?

Esse novo protocolo foi uma mudança absurda, um retrocesso imenso. O que tínhamos conseguido negociar no início da pandemia foi praticamente descartado. Foi acrescentada a questão do contato direto, o que não faz sentido nenhum para a prática bancária. Qual é a definição de aproximação? Eles apresentam a distância de um metro e meio, mas na rotina agência não tem como prever isso, os espaços são amplamente coletivos e as pessoas transitam entre eles a todo momento.

O que podemos concluir com esse novo protocolo é que neste momento a prioridade da gestão da CEF tem sido a abertura das agências e não a vida dos trabalhadores.  Aqui no Estado tivemos um caso onde o colega foi diagnosticado, seguiu-se o protocolo de higienização, no entanto a agência foi aberta no dia seguinte, inclusive com pessoas que haviam tido contato com o colega. Isso é um verdadeiro absurdo. Para casos como esses nós temos reivindicado a testagem, mas os gestores do banco não têm concordado de jeito nenhum.

Hoje o que está colocado para o trabalhador é pagar do próprio bolso o teste, o que é um custo muito alto. A argumentação que a Fenaban usa para justificar tal postura é a possível ineficiência dos testes, com o risco de falso negativo. Diante disso, a testagem só tem sido realizada em caso de sintomas, com solicitação médica e via Saúde Caixa. Somado a isso, no ponto de vista das Prefeituras e do Governo do Estado, nós não estamos conseguindo nenhum apoio nesse sentido.

Com esse processo da gestão ignorar o protocolo negociado, que minimamente garantia a preservação da vida, retrocedemos por completo e hoje os trabalhadores da Caixa estão vivendo a insegurança no ambiente de trabalho.

 

Como tem sido a mesa de negociação com a gestão da CEF neste momento de pandemia? Quais as principais conquistas e dificuldades?

A mesa de negociação formal só aconteceu duas vezes até então. A primeira foi que gerou o primeiro protocolo e a segunda foi sobre Saúde Caixa para todos, onde não foi apresentada nenhuma proposta. O que temos feito é a partir da Comissão de Empresa, encaminhar ofícios para os gestores e ainda assim, não temos tido respostas sobre as solicitações. Em alguns casos eles até atendem as reivindicações, como no caso do home office ser estendido até o dia 15 de junho. Havíamos solicitado via ofício uma semana atrás. Não tivemos resposta, mas ontem saiu o anúncio público da decisão tomada. Ou seja, eles estão descaracterizando a mesa de negociação.

Até o momento tivemos algumas conquistas, como a garantia dos Equipamentos de Proteção Individual – EPI, como luvas, máscaras e álcool em gel. Foi muito difícil implementar isso em todo o país, mas com a ajuda e fiscalização dos Sindicato conseguimos. Em alguns casos os Sindicatos estão auxiliando até no mapeamento de empresas que produzem os materiais para agilizar a aquisição. Houve até mesmo a atribuição de mais equipamentos a partir das cobranças, como a barreira de acrílico e o protetor facial. Além disso, conseguimos manter o home office para grupo de risco, PCDs e a questão do revezamento, com algumas dificuldades, mas tem sido mantido.

 

Sobre o auxílio emergencial, como o sr. observa o posicionamento do governo em relação à operação do pagamento?

A operação começou totalmente errada, a porta de entrada não poderia ser a Caixa. O processo deveria ter sido iniciado pelo Ministério da Cidadania através dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS. Assim como temos o Sistema Único de Saúde -SUS, temos também o Sistema Único de Assistência Social – SUAS que centraliza os dados e ações em todo o país. O correto deveria ser começar por aí, primeiro porque seria garantida a presença de profissionais da assistência social que são capacitados para processos como esses para orientar e preencher os formulários. Ao invés disso, o governo encaminhou tudo pela Caixa, o que ocasionou até na presença de pessoas nas agências questionando a demora na resposta do cadastro.

Outra questão é que todo o sistema financeiro deveria estar envolvido nessa demanda para que fossem disponibilizadas mais agências para a operação e evitar aglomerações.

Felizmente, nos últimos dias temos conseguido contornar essa situação. A ação dos Sindicatos e dos gestores locais da CEF, com cobranças aos poderes locais, conquistou o entendimento de algumas prefeituras sobre a complexidade da situação.

Diante da grande demanda, inevitavelmente as filas são grandes, mas para tentar amenizar isso, também solicitamos alteração no calendário de pagamentos. Agora, o pagamento do Bolsa Família e outros complementos não chocam com o pagamento da poupança digital, e isso resultou em uma diminuição das filas nos últimos dias. Amanhã, dia 30, começa o pagamento da segunda parcela, com isso poderemos avaliar a eficácia desse procedimento.

 

Qual a importância dos bancos públicos, principalmente em cenários de crise como este que está sendo enfrentado?

Desde a primeira reforma trabalhista temos anunciado a grave situação da classe trabalhadora em nosso país, que diante dos processos de retirada de direitos e redução de postos de trabalho, existe hoje uma grande massa de pessoas na informalidade. Essa pandemia retirou o véu que estava colocado sobre essa situação.

A expectativa inicial do governo era destinar o auxílio para os beneficiários do Bolsa Família e os demais do Cadastro Único – CADúnico, cerca de 25 milhões de beneficiários. Além desse montante, acreditavam que haveriam mais seis milhões de pessoas que fariam a solicitação. O que tivemos de fato foi o cadastro de 97 milhões de pessoas. Até o momento foram pagas 62 milhões de auxílio e estima-se que ainda existem mais 10 milhões de trabalhadores aptos a receber. 35Isso demonstra como o trabalhador brasileiro está sendo desvalorizado, como os empregos reduzidos e as pessoas estão trabalhando por conta própria, o que se transforma em uma tragédia em momentos de crise.

Neste cenário, a segunda questão é sobre qual banco se disponibilizaria para realizar essa movimentação, sem a perspectiva de lucro e em tão pouco espaço de tempo? Houve falhas do governo sobre a metodologia do cadastro, mas o esforço dos trabalhadores e da área tecnológica em viabilizar esse pagamento, é algo que demonstra a importância de ter uma empresa 100% pública, a serviço da população.

Existem também o momento que vamos iniciar em que os bancos públicos serão fundamentais. Nesse caso não apenas a Caixa, mas também o BNDES, Banco do Brasil e Banco do Nordeste, que estarão na linha de frente de disponibilização de crédito para retomada da economia. Será necessário garantir crédito barato e o governo já vem anunciando isso, que irá diminuir o compulsório. Algum banco privado vai querer se colocar nesse papel? No máximo eles vão garantir para os clientes que já tem, com garantias. Quem vai arcar com os empréstimos às pequenas e médias empresas, aos MEIs, vão ser os bancos públicos, com um maior risco, garantindo juros baixos e prazo de carência.

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