O Piquete desta semana entrevistou o presidente da Contraf/CUT, Roberto von der Osten, sobre a organização da luta bancária para 2017.
Qual a importância dos encontros que estão sendo realizados nacionalmente e regionalmente com os bancários?
São encontros que fazem parte da nossa tradição organizativa. Este ano, revestem-se de papel estratégico para nossas mobilizações para defender nossos direitos trabalhistas e previdenciários, além de somar com o esforço do movimento sindical pelo restabelecimento da normalidade democrática e pela convocação de eleições diretas.
No ano passado a categoria firmou um acordo válido até 2018. A resolução é válida somente para a remuneração?
Não. O acordo vale para todas as 71 cláusulas da Convenção Coletiva de Trabalho, para o Acordo de PLR e para os demais acordos aditivos feitos com os sindicatos.
O que deve ser reivindicado este ano?
Nossa campanha nunca foi só salarial. O Comando Nacional dos Bancários já tinha definido no começo do ano que a Campanha Nacional 2017 de toda a categoria seria voltada para a manutenção do emprego, com foco na luta contra a precarização das relações de trabalho, no combate à terceirização para atividade-fim, na luta para barrar avanços na área digital que precariza condições de trabalho, na defesa dos bancos públicos e em debates sobre os impactos da reforma trabalhista e da Previdência.
A terceirização e a reforma trabalhista impactam diretamente na realidade de bancários dos bancos privados. É possível a categoria minimizar as consequências desta nova regulamentação?
Este é o foco dos debates. Combater para que não sejam aprovadas leis redutivas de direitos, mas, se aprovadas, quais medidas tomaremos para que não sejam implementadas na categoria e no ramo financeiro.
De que maneira avanço das tecnologias nas agências ameaça a categoria?
Cada nova máquina ou aplicativo que é colocado em uso pelos bancos reduz algum posto de trabalho. Tem sido assim na história das máquinas. E deter as tecnologias não é uma tática acertada para resolver os nossos problemas. Se for só isso, seremos derrotados. O que temos que debater é a velocidade da implantação das novas tecnologias, o que fazer com os trabalhadores que ficam com os conhecimentos obsoletos cada vez que aparece uma novidade no mercado, qual é a jornada e quais os direitos dos bancários diante das novas tecnologias. Coisas difíceis de debater e combater, pois simbolizam o processo civilizatório e o novo perfil dos clientes, que querem cada vez mais contato digital com os bancos. É um debate que a humanidade tem que fazer com o capitalismo.
O adoecimento psicológico na categoria bancária já supera os problemas osteomusculares. O que precisa ser mudado nas agências para reverter essa realidade?
O que precisa ser mudado não está nas agências. Está na voracidade que os bancos têm por lucros e nas metas absurdas e abusivas que impõem aos seus empregados. Os bancos fazem um discurso contraditório de modernidade: agências da era digital e empregados da era da escravatura. Combatemos muito fortemente esta imposição de valores e metas. Todos perdem com isso, exceto os donos dos bancos.
A crise que abateu o presidente Temer pode servir para impactar nas tramitações das reformas trabalhista e da Previdência?
O golpe que resultou na deposição da presidenta Dilma foi, na verdade, dado pelas elites para implementar uma reforma brutal de redução de direitos dos trabalhadores. Temer é um presidente fraco e covarde, denunciado por estar metido em falcatruas e corrupção, um homem totalmente descartável. Foi mantido na presidência para implementar maldades e um programa absolutamente diferente daquele com que a sua chapa ganhou as eleições. O programa de reformas ultraliberais que está em curso não ganha eleições. Perdeu quatro eleições seguidas e vai perder em 2018 novamente. Eles precisam implementar estas reformas urgentemente via Congresso. Com ou sem Temer. Se ele precisar ser descartado, será. Outro no seu lugar vai continuar as reformas. Estas sim é que são a razão do golpe.
Por que é fundamental a mobilização de trabalhadores e movimentos sociais nesta conjuntura sociopolítica?
O lema da nossa Campanha Nacional 2016 foi escolhido cuidadosamente: “Só a luta te garante!” Os sindicatos e federações têm que dialogar muito com os nossos bancários e bancárias para que eles compreendam a gravidade do momento que vivemos. Nem a ditadura militar tampouco outro momento da história do Brasil atacou tão fortemente direitos dos trabalhadores. Tão fundo. Querem deformar 117 artigos da CLT e ferir de morte nossos direitos duramente conquistados. Conquistas que custaram anos e anos de lutas, descontos de salários, demissões e até mortes. Nada veio de graça e tudo pode se perder por imobilidade. Temos que convencer nossos representados que a resistência é nas ruas. Calar agora será consentir e poderá trazer fortes arrependimentos. Temos que lutar por nossos direitos e os direitos dos nossos filhos. Só a luta nos garante.
As opiniões expressas no artigo não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.