No dia 1º, em breve entrevista para um site de notícias, Pedro Guimarães, escolhido para presidir a Caixa Econômica Federal, confirmou os planos de entregar áreas de atuação do banco para a iniciativa privada. “A gente começa com quatro operações de abertura de capital: seguros, cartões, assets e loterias. São operações importantes. Elas aumentam a base de capital da Caixa e trazem uma questão de governa muito forte”, afirmou no vídeo.
Guimarães completou que a ideia é fazer com que a categoria adquira ações das subsidiárias a serem privatizadas. “Nosso objetivo é trazer a própria base de funcionários para serem sócios dessas operações. Alinhar que tenham essa visão, e não tenho dúvida nenhuma que têm, e gerar mais crescimento ainda nesses segmentos”, disse. De acordo com o presidente da Caixa, a meta é arrecadar mais de R$ 20 bilhões numa primeira fase.
Para o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, as declarações de Pedro Guimarães não causam surpresa. “Membros do atual governo nunca esconderam esses planos. O próprio ministro Paulo Guedes, que tem carta branca do presidente Jair Bolsonaro, afirmou que o objetivo é privatizar tudo o que for possível. Ou seja, não há outro caminho que não seja a nossa resistência contra o fatiamento e a diminuição da Caixa”, alerta.
Sérgio Takemoto, vice-presidente da Fenae, lembra que, segundo pesquisa realizada no ano passado, 68% dos brasileiros são contrários às privatizações. “Em relação à Caixa, esse índice sobe para 71%, maior que no caso do Banco do Brasil e da Petrobras, ambos com 70%. Ao contrário do que pensa Pedro Guimarães, esse cenário se repete entre os empregados da Caixa, a maioria deles também é contra esse esquartejamento da empresa”, avalia.
Atento aos sinais do governo Bolsonaro, o setor privado aumenta a cobiça. Em novembro, o presidente do Santander, Sérgio Real, defendeu a quebra de monopólios nos serviços financeiros, entre eles, depósitos judiciais, folhas de pagamento e FGTS. No mês seguinte, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, confirmou que o banco está de olho em oportunidades de aquisições vindas da Caixa e do Banco do Brasil.
“Tudo isso só mostra que a tendência é que os banqueiros e os grandes empresários tenham mais voz na atual gestão e participem ativamente das decisões. Com isso, a população é que vai sair no prejuízo, sobretudo a mais carente, pois o social vai ficar em segundo plano, tudo em nome do lucro, do rentismo. Temos que barrar esses e outros retrocessos que certamente virão, e não apenas em relação à Caixa”, diz Jair Ferreira.
Empregados precisam estar unidos
Na entrevista, Pedro Guimarães também anunciou que o banco público terá a presença de militares em postos diretivos. “Existe uma questão de governança importante e a gente quer fazer toda análise do passado de quaisquer problemas que por ventura existam, e ter os militares com a gente faz todo sentido”, declarou, sem explicar o que seria exatamente “análise do passado”.
Para Rita Serrano, represente dos trabalhadores da Caixa no CA e da Diretoria da Fenae, a fala de Guimarães é vaga e, no caso da nomeação dos militares, desconsideram-se regras legais e estatutárias que precisam ser cumpridas. “Fica claro o tamanho desafio que teremos nesse enfrentamento. Os empregados precisam estar unidos e informar a sociedade sobre os riscos desse fatiamento da empresa”, aponta. Jair Ferreira acrescenta: “também é importante que os colegas denunciem ameaças, perseguições, caso haja, com quem quer que seja”.
Não tem sentido fatiar a Caixa
A Fenae lançou em outubro do ano passado a campanha “Não tem sentido”, cujo objetivo é mobilizar os empregados da Caixa e a sociedade mostrando que o banco precisa continuar 100% público, forte, social e a serviço dos brasileiros. E fazer parte é muito simples! Por meio do site www.naotemsentido.com.br, é possível enviar vídeos ou escrever depoimentos opinando por quais motivos a empresa não pode ser privatizada ou enfraquecida.
Em manifesto divulgado por ocasião do lançamento da campanha, a Fenae destaca que não tem sentido jogar fora conquistas importantes. “Poupança, penhor, habitação, FGTS, programas sociais inovadores, eficientes e reconhecidos no mundo inteiro. Em 157 anos de existência a Caixa consolidou o seu protagonismo no desenvolvimento econômico e social do Brasil”. E ainda: “Quem defende a privatização da Caixa, seja de todo o banco ou seja em partes, não tem o menor compromisso com o Brasil e com os brasileiros”.
Fonte: Fenae