Uelber Barbosa é coordenador do Núcleo de Promoção da Igualdade Racial.
Na semana marcada pelo Dia Nacional da Consciência Negra, conversamos com o historiador e coordenador do Núcleo de Promoção da Igualdade Racial, Uelber Barbosa. Ele vai ministrar uma palestra sobre racismo, movimento negro e cotas em concursos públicos, na próxima quinta-feira (20), às 19h, na sede do Sindicato.
Como o racismo afeta a classe trabalhadora?
Quando a gente fala em racismo, a gente precisa pensar nos mais de 350 anos de escravidão no Brasil e o projeto de abolição da escravatura, que não previa nenhum tipo de compensação àqueles trabalhadores que eram escravizados. Não tinham onde morar, como se vestir, trabalho, não tinham nada. Aí começa a verdadeira história do ponto de vista prático do racismo brasileiro, quando você nega ao outro todo tipo de direito. O próprio Estado tomou algumas medidas depois desse processo para aprofundar ainda mais a exclusão social da população negra. Por exemplo, o processo de modernização e urbanização do Rio de Janeiro acabou com todos os cortiços. Quando os cortiços foram demolidos para o processo de urbanização, eles não tiveram para onde ir. Aí se formaram as favelas, as periferias das grandes cidades, onde os negros vão sendo sempre recanteados. Em todo esse histórico da sociedade brasileira, o racismo foi sempre presente. Hoje a gente percebe isso quando não tem uma presença muito marcante dos negros no mercado de trabalho, e que além disso, os que estão inseridos no mercado recebem um valor econômico menor que os brancos, na mesma condição e com o mesmo status.
O número de bancários negros nas agências é muito baixo, e hoje se fala em cotas para concursos públicos. Como você vê a inclusão dessa política afirmativa?
Muitas pessoas costumam dizer que as cotas são uma revolução brasileira. Eu costumo pensar que o avanço existe mas ainda é muito pequeno. É um degrau que estamos subindo nessa luta árdua contra o racismo. São necessárias as cotas? São. Mas a gente tem que caminhar para uma sociedade em que não seja mais necessária a cota. Nós temos menos de 1% de bancários que são negros em Vitória da Conquista. Tem alguma coisa errada, pois é uma cidade em que 67% da população que se autodeclara preta e parda. Por que essa população não é contemplada nos diversos setores, sobretudo os econômicos, que possuem um status mais elevado na sociedade? Por aí a gente percebe que tem alguma coisa errada, e na verdade o racismo estrutura as relações sociais no Brasil.
O que será abordado em sua palestra?
Como se trata de uma categoria profissional, o tema de Cotas em Concursos Públicos é um tema atual. Só que para se falar das cotas em concurso, explicar o que é, como vai se processar e por que existe a necessidade dessa política afirmativa, eu vou precisar falar do geral e o que é o racismo, como é que ele surge, se estrutura, como ele se processou na sociedade brasileira. Então eu vou falar disso tudo.