A carteira de crédito ampliada da Caixa cresceu somente 6,7% no primeiro semestre deste ano. O índice consta de relatório recentemente divulgado pela instituição com dados do período. É um percentual bem menor do que o registrado no primeiro semestre de 2015, de 17%, o que aponta para a adoção de uma política que afasta o banco de seu papel social e resulta do ajuste fiscal do governo, responsável pela retração da economia, com diminuição do emprego. E este é apenas um entre os indicadores que vêm se somar a perspectivas também nada favoráveis para o povo brasileiro e os empregados da Caixa, vez que o governo golpista deixou claro que privatizações serão feitas indiscriminadamente.
Loteria, seguros e cartões estão certamente nessa lista de “privatizáveis”. É preciso reforçar, porém, que dos R$ 5,9 bilhões arrecadados com a loteria neste semestre, cerca de R$ 2,2 bilhões foram transferidos aos programas sociais do governo federal nas áreas de seguridade social, esporte, cultura, segurança pública, educação e saúde. Entre estes programas figuram o FIES, com 19%, o Fundo Nacional de Cultura (7,6%), o Esporte (18,8%), Fundo Nacional de Saúde (0,7%), Fundo Penitenciário (8,1%) e a própria Seguridade Social, com 45,9%. Não é necessário ser vidente para saber que, caso essas operações sejam concedidas ao setor privado, não haverá repasses em benefício da sociedade, porque o objetivo central (senão o único) das empresas compradoras será a lucratividade.
Outra ameaça em curso diz respeito à quebra do monopólio da Caixa sobre o FGTS. Nesse “debate”, a grande imprensa – liderada pelas organizações Globo – defende descaradamente que os recursos sejam partilhados com os bancos privados, cujo único objetivo é o de lucrar mais à custa dos recursos dos trabalhadores, sem nenhum compromisso com o desenvolvimento do Brasil. Dentre as várias finalidades do FGTS hoje está o investimento em habitação popular e infraestrutura, áreas nas quais a Caixa se destaca.
Assim como na carteira de crédito, a desaceleração na Caixa se observa também na comparação anual, segundo o Dieese, em programas exitosos na redução da desigualdade social, como é o caso do Minha Casa Minha Vida: em 2014, foram contratadas 389,2 mil unidades habitacionais. No ano passado o número caiu para 347 mil. Nesse segmento ficou clara a mudança de rota do governo, ao cortar investimentos em habitação para as camadas mais carentes e autorizar o financiamento para imóveis de alto padrão.
Como representante dos trabalhadores no CA da Caixa, destaco ainda que, especificamente para os empregados do banco, a situação é de alerta e exige resistência. A Caixa teve lucro menor na comparação com o primeiro semestre do ano passado, mas, ainda assim, o montante atingiu R$ 2,448 bilhões. No entanto, mesmo lucrando, 2.235 empregos foram cortados em doze meses (junho de 2015 a junho de 2016), sendo 1.304 em apenas três meses (de março a junho). E, se houve aumento no número de clientes – mais 4,231 milhões em doze meses, passando a 85.080 milhões de clientes. Ou seja: há mais clientes, mas menos empregados para atendê-los, piorando o ambiente de trabalho e condições de saúde dos bancários.
É imprescindível que os trabalhadores da Caixa percebam que o que está em jogo é o futuro do País. Com o golpe, estão sob ameaça o papel da Caixa como instituição financiadora do desenvolvimento do Brasil e, em consequência, o emprego e a qualidade das condições de trabalho. A disputa é entre o Estado de bem-estar social que desejamos (e que avançou alguns passos nos últimos anos) e o Estado Mínimo, sem serviços públicos e universais e de empresas públicas.
Lutar contra a privatização de serviços e empresas é a bandeira central do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, que coordeno desde o início das atividades contra o projeto de lei de responsabilidade das estatais (PLS 555). Após muita mobilização pelo País, o projeto tornou-se a lei 13.303, mas conseguimos reverter itens privatizantes e prosseguimos com ações em prol do público, como o lançamento da campanha “Se é público, é para todos”, em junho passado no Rio de Janeiro, e que agora se espalha pelo Brasil.
Nossa proposta é que a bandeira dos bens e serviços públicos seja também a de todas as categorias em campanha salarial neste semestre. Só assim, unidos, poderemos reagir ao golpismo que almeja o retrocesso para atender a grupos privados e empresas multinacionais e ataca os direitos de todos os brasileiros. Temos, portanto, muita luta pela frente e – sempre é bom destacar – só mesmo a luta nos garante.
Artigo de Maria Rita Serrano, representante dos empregados no Conselho de Administração (CA) da Caixa, coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, diretora do Sindicato dos Bancários do ABC e da Contraf e mestra em Administração.
Fonte: Bancários do ABC