Conversamos com o cientista Político e professor da Unicamp, Reginaldo Moraes, sobre os desafios atuais dos trabalhadores e do movimento sindical. Confira.
Diante da conjuntura política e econômica de recessão e a falta de credibilidade do governo Dilma, como o você avalia o momento do país e quais consequências para os trabalhadores?
O momento não é dos melhores. Não apenas por causa da política econômica do governo – agora em nova fase de indefinição, depois da saída de Joaquim Levy -, nem da falta de credibilidade do governo. Aliás, falta de credibilidade de várias instituições políticas, incluindo partidos e sindicatos. O momento também é difícil porque o cenário internacional é péssimo. Há um quadro recessivo mundial e um quadro muito ruim para a economia brasileira, fortemente dependente de exportações. Dentro desse contexto e a continuar com esse modelo econômico, as consequências são duras: menos emprego, menos salário e menos serviços públicos. Para mudar esse quadro é preciso mudar também o modelo econômico e sua dependência externa. Mas isso é algo que parece bem distante dos partidos e dos sindicatos, por exemplo, em geral muito envolvidos em objetivos de curto prazo, localizados e imediatos.
Durante o governo FHC, os movimentos sindicais tiveram papel importante para barrar as políticas neoliberais, como por exemplo, as privatizações e a reforma da previdência. Atualmente, temos visto o governo implementar um conjunto de medidas neoliberais. Neste cenário, como deve ser o retorno dos movimentos sindicais às lutas pela manutenção das conquistas e avanços nos direitos trabalhistas?
Não é tão certo que os movimentos sindicais tenham tido mesmo esse papel no governo FHC. Não creio que tenham barrado as privatizações: elas foram avassaladoras e criaram um quadro desastroso nos setores estratégicos da economia. Pouca coisa escapou. Aliás, seria bom reconhecer que muitas das reformas neoliberais no Brasil encontraram resistência, também, entre setores empresariais nacionais descontentes. O retorno dos movimentos sindicais à linha de frente precisa ir bem além dessa tal manutenção das conquistas dos direitos trabalhistas. Se for por ai e ficar nisso, já sai perdendo. Os sindicatos precisam ter propostas mais ousadas. Algumas trabalhistas, é verdade, mas ousadas. E outras bem mais amplas, de natureza política. Precisam ter uma pauta política, voltada para a construção de um novo modelo econômico. Se não fizerem isso e se limitarem à resistência corporativa, localizada, podem estar condenados ao esvaziamento, à derrota. A resistência nos itens locais, específicos, é importante, mas é constantemente minada, esvaziada, pela evolução do conjunto do sistema econômico. E para ir nessa direção, para defender essas bandeiras mais amplas, os sindicatos precisam inovar na organização, precisam ir além do enfoque “de categoria” e ir na direção, mais ampla, da classe trabalhadora no seu conjunto, incluindo os vastos setores desorganizados e pulverizados da classe trabalhadora, que não apenas não têm direitos trabalhistas como não têm direitos de cidadania, de acesso a serviços públicos essenciais (política de saúde, moradia, educação, entre outras). O sindicato precisa criar formas de organização dirigidos para essa luta mais ampla.
Os escândalos ligados à corrupção e ataques aos direitos dos trabalhadores têm gerado desgastes na relação entre governo e população. Por consequência, este quadro também fragiliza a representatividade de entidades de lutas trabalhistas, quando consideradas as relações partidárias entre governo e centrais sindicais. De que forma o Sr. acredita que essas tensões estão comprometendo a resistência dos trabalhadores?
A representatividade das entidades trabalhistas não se deve apenas a eventual identificação com o governo. Os sindicatos têm sofrido um isolamento e um enfraquecimento que vai muito além desse fator. Se não reconhecerem isso, acabarão por “jogar a culpa” de sua fraqueza nos outros. O fato é que a forma de organização dos sindicatos já era antiquada, burocrática e desmobilizadora faz muito tempo. Nós tivemos um fim de ditadura que não foi seguido de uma modificação radical da representação dos trabalhadores. Por vários motivos, inclusive por inércia e conservadorismo das lideranças, temerosas de perder a direção, os sindicatos não enfrentaram o desafio de lutar pela organização dos trabalhadores nos locais de trabalho, como em outros países que se livraram de governos ditatoriais.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento de toda a diretoria do SEEB/VCR.