Na semana em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, conversamos com a diretora de Assuntos de Gênero, Giovania Souto sobre o preconceito e a violência que ainda faz tantas vítimas no Brasil.
Ainda somos sobrecarregadas com o peso de atribuições que são consideradas essencialmente femininas. Nós, mulheres, não queremos favores ou privilégios. Queremos respeito e igualdade. Todo ser humano merece isso, independente de gênero, cor ou nível social. Até hoje, muitos homens não se envolvem nas tarefas importantes do dia-a-dia e deixam tudo a cargo da mulher, desde as responsabilidades com o lar até a cobrança em relação ao padrão estético, que hoje está cada vez mais inalcançável.
No ambiente corporativo ainda existe preconceito? Como este preconceito é praticado?
No banco existe, sim, muito preconceito. Existe uma divisão entre as tarefas de homens e mulheres. Há uma linha muito tênue entre o assédio moral e a brincadeira. Muitas mulheres ficam na dúvida se o assédio aconteceu ou não. Como a distância entre a brincadeira e a agressão é muito pequena, é melhor que não ocorra nenhum ato que pode se tornar pejorativo dentro ou fora do ambiente de trabalho.
Caso alguma mulher tenha dúvida ou se sinta assediada, o que deve fazer?
Caso ocorra algum tipo de ação que possa ser considerada assédio, o meu conselho é que a vítima tenha uma postura firme, não aceite e reclame sobre a situação. Já no caso da repetição dos atos, o que configura o assédio moral e/ou sexual, a assediada deve procurar se munir de provas e testemunhas para promover a denúncia. Somente denunciando o assediador é que podemos acabar com a incidência deste tipo de crime.
Como a senhora vê a polêmica a respeito da mulher como agente causador do estupro, seja através do seu comportamento ou das suas vestimentas?
Eu vi há pouco tempo um cartaz que dizia: pouco pano, sim; pouco respeito, não! Não é porque uma mulher não está vestida de acordo como alguns acham adequado que ela não tenha valores morais. Ninguém pode julgar uma mulher pela aparência e, além disso, ela tem o direito de se vestir e se expressar como bem entender.
Foi aprovado recentemente o projeto de lei que classifica o feminicídio como crime hediondo. A senhora considera uma vitória esta aprovação? Qual a importância desta lei?
O feminicídio é um crime alarmante. A cada 15 segundos uma mulher é espancada no Brasil, segundo dados da Fundação Perseu Abramo. É um crime motivado pelo sentimento de posse ou de superioridade, por isso a Lei do Feminicídio, sancionada na última segunda-feira, não irá por um fim aos casos, mas é uma ferramenta importante de combate para as mulheres. A nossa luta é para construir uma sociedade igualitária e, para isso, esse tipo de violência tem que acabar.