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Quem é Javier Milei, o presidente eleito da Argentina

O ultradireitista chega à Casa Rosada prometendo reduzir ao mínimo o papel do Estado

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei. Foto: Luis Robayo/AFP

Nos últimos anos, um economista ultralibertário, estridente no discurso e excêntrico no visual, tornou-se pouco a pouco uma presença frequente nos debates televisivos da Argentina. Lançando mão das mais variadas críticas ao que chamava de “decadência” do país nas últimas décadas, ele resolveu embarcar na política e, em 2019, foi eleito deputado por uma coalizão recém-formada, chamada La Libertad Avanza. Pouco marcante nas discussões parlamentares, mas sempre ativo nas redes sociais e nas bancadas da TV, anunciou sua candidatura para a Casa Rosada, para desconfiança da classe política tradicional. Neste domingo 19, Javier Milei foi eleito o novo chefe da Casa Rosada.

Javier Gerardo Milei, 53 anos, nasceu em Buenos Aires. Membro de uma família de classe média, cresceu no bairro de Villa Devoto e, ainda na adolescência, foi apelidado de “El Loco” pelos colegas. Esse perfil se manteve nos tempos da universidade, quando Milei se formou em Economia em Belgrano.

Muitos anos se passaram entre a universidade e o começo de sua carreira política. Nesse período, Milei viu a Argentina experimentar a mais séria crise econômica e social de sua história, no começo dos anos 2000, e acompanhou a ascensão dos governos de Néstor e Cristina Kirchner. Os dois ex-presidentes deram origem a um movimento chamado kirchnerismo, cuja “destruição” foi uma palavra de ordem da campanha de Milei.

Perfil radical e pretensamente contra o “sistema”

“Conseguimos construir esta alternativa competitiva que não só acabará com o kirchnerismo, mas também acabará com a casta política parasitária estúpida e inútil que existe neste país”. Assim resumiu Milei a sua percepção sobre o quadro político-partidário da Argentina.

“Liberal libertário” e “anarcocapitalista” são duas expressões que Milei usa para definir a si mesmo. Se a ruptura prometida será concretizada no futuro governo, contudo, somente o tempo poderá responder.

Foi com esse perfil “antissistema” que Milei lançou a sua plataforma de campanha e chegou à Presidência. O presidente eleito promete, entre outras coisas, dolarizar a economia, acabar com o Banco Central e privatizar um sem-fim de empresas públicas que ele define como “deficitárias”, além de reduzir os subsídios dados pelo Estado à população.

Ou, pelo menos, prometia. O discurso radicalizado de Milei deu lugar a declarações mais moderadas, pelo menos nas últimas semanas, quando a chance de chegar à Casa Rosada se tornou real e Milei obteve apoio de parte da direita tradicional.

Existe, afinal, uma dúvida não apenas sobre o que Milei pretende fazer nos quatro anos em que será presidente da Argentina, mas, sobretudo, como fará.

Ao longo da campanha, Milei não tratou apenas de economia, embora esse tema seja de primeira ordem em um país cuja inflação anual de três dígitos o faz um caso ímpar de nação cuja crise é uma realidade permanente.

Milei já prometeu facilitar o acesso a armas, criticou a aprovação da lei que descriminalizou o aborto e indica, sempre que tem a chance, a sua preferência por figuras políticas da extrema-direita mundial, como Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump.

Quais são as diferenças e semelhanças entre Milei e Bolsonaro?

Com esse perfil, as dúvidas sobre as semelhanças e as diferenças entre Milei e Bolsonaro começaram a surgir, tanto no Brasil quanto na Argentina. Críticas a políticos definidos como “comunistas”, manejo das redes sociais e forte discurso em prol das forças de segurança do Estado são pontos que podem unir os dois personagens.

Entretanto, à diferença de Bolsonaro, a proximidade de Milei com as pautas de costumes não é tão aguda. Pelo menos no discurso, Milei tem se apresentado como um liberal – ou seja, a sua plataforma política prevê a redução do Estado.

Por outro lado, em contraposição ao brasileiro, Milei não mantém laços com o setor militar. O novo presidente da Argentina não teve carreira militar e, pelo menos até agora, nenhum nome das Forças Armadas foi diretamente ligado à campanha. Além disso, a proximidade com setores evangélicos não é uma marca de Milei.

Pesam nessa comparação não apenas as diferenças entre Milei e Bolsonaro, mas entre a Argentina e o Brasil. Em termos de percentual da população evangélica, a brasileira, segundo dados oficiais, é praticamente o dobro da argentina.

Sobre os militares, a relação dos quartéis com a sociedade argentina é diferente do caso brasileiro, uma vez que o fim do regime militar na Argentina foi marcado pela punição aos responsáveis por torturas, perseguições e assassinatos. A força da caserna no grupo do novo presidente da Argentina está ligada mais diretamente à vice-presidenta eleita, Victoria Villarruel, uma negacionista da ditadura.

Fonte: Carta Capital

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