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“Só a luta muda a vida”

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Nesta edição d’O Piquete Bancário entrevistamos Sofia Manzano, vice-presidente da Adusb e professora de economia na UESB, para falar sobre o cenário político-econômico do Brasil.

Como a sra. avalia o processo em que se deu o impeachment e quais são as perspectivas em relação ao governo federal?

O processo do impeachment foi orquestrado pelos representantes do grande capital que, mesmo ganhando muito durante os governos petistas, querem aumentar a exploração dos trabalhadores e querem uma parte ainda maior do fundo público. Esses setores, principalmente o setor financeiro, quer que as medidas que degradam ainda mais a vida dos trabalhadores, sejam aprovadas com maior rapidez.

O governo Dilma já vem implementando medidas deste tipo, como as leis que dificultam o acesso à pensão por morte, ao seguro desemprego. No entanto, com Michel Temer, esses setores da burguesia, como o setor bancário, esperam aprofundar ainda mais esse processo.

A que a sra. atribui a diminuição brusca de manifestações populares contra a corrupção neste momento, em que continuam sendo divulgados escândalos envolvendo políticos de todos os escalões?

Aquelas manifestações de direita tinham na corrupção apenas o elemento mais vulgar, ou seja, um apelo ao senso comum de baixo nível para, na verdade, fazer ascender os ânimos mais reacionários. Não é a primeira vez que isso acontece no Brasil, aliás, é bem comum até. Foi assim na eleição de Jânio Quadros, no golpe militar de 64, na eleição de Collor de Melo.

O que as pessoas não compreendem é que capitalismo e corrupção são sinônimos e a maioria da população que saiu às ruas "contra a corrupção", já deve ter cometido um ato corrupto, mesmo que para ele não seja, como pagar menos que um salário mínimo para a empregada doméstica e não registrá-la. Isso não é corrupção? Não está corrompendo o direito da trabalhadora?

As manifestações de direita pararam justamente por que aquelas pessoas não se importam realmente com a corrupção. O que elas fizeram foi seguir, como manada, um movimento que tinha outros objetos, objetivos reacionários, intolerantes, xenófobos, racistas, homofóbicos, e outros mais.

A sra. acredita no retorno da presidente Dilma?

O retorno de Dilma depende de acordos que poderão ser feitos entre o PT e esses setores da burguesia. Se esses setores acreditarem que o atual governo não vai conseguir aprofundar as medidas de ajuste fiscal e redução dos direitos trabalhistas, Dilma poderá voltar, já que os governos do PT sempre fizeram estes ajustes e ainda controlaram os trabalhadores e os movimentos sociais para que não saíssem em luta. Mas se as perspectivas forem de implementação das medidas assim que o processo de impeachment acabar, como Temer vem anunciando, então Dilma não retorna.

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, contando com o apoio de parlamentares do DEM, PSDB, PC do B e PT. Quais os prejuízos para os trabalhadores com os projetos que poderão ser colocados em votação?

A eleição de Rodrigo Maia é mais uma demonstração do caráter do PT e do PCdoB na cena política atual. Estes dois partidos não estão preocupados com os direitos trabalhistas e os direitos sociais da classe trabalhadora. Não estão preocupados nem mesmo com o processo de impeachment, já que Rodrigo Maia foi um dos mais importantes articuladores do afastamento da Dilma. O que estes partidos querem é permanecer no poder a qualquer custo. Por isso ficam sinalizando para a burguesia que eles continuam “bonzinhos”, “domesticados” e que não representam ameaça aos interesses dos capitalistas. As medidas que estão no congresso para aprovação serão terríveis para os trabalhadores em geral. Querem modificar mais uma vez a Previdência Social, assim o trabalhador vai ter que trabalhar até morrer. E a desculpa mentirosa é um tal déficit da Previdência. Isso é uma mentira que já foi há muito tempo demonstrada, mas a grande imprensa insiste nela para que a população não se revolte. Há propostas de reduzir os gastos com saúde e educação, e quanto pior ficarem esses serviços – claro que quem perde são os mais pobres – vão fazer propostas para privatizá-los. Há também medidas que atingem mais diretamente os serviços públicos, como a proibição de novos concursos públicos por 20 anos, o fim das carreiras públicas, o sucateamento dos serviços públicos. Tem até um representante da FIESP que quer que a jornada de trabalho semanal seja de 80 horas! Já imaginou? Enfim, as medidas que estão no Congresso são realmente para arrasar com os trabalhadores.

O governo Temer anunciou a pretensão de congelar os gastos públicos por um ano a partir de uma emenda constitucional. O objetivo é limitar o crescimento do gasto público ao percentual à inflação do ano anterior. Quais as consequências dessa medida para o serviço público?

A PEC 241/16 prevê congelamento dos gastos públicos por 20 anos, podendo ser corrigido apenas pela informação. Isso significa que a estrutura de gastos atual será mantida, não importa o que ocorra e nem que governo assuma. Hoje, quase a metade do dinheiro público é usado para pagar juros e amortização da dívida pública – seria necessário mais espaço para explicar porque a dívida pública não precisa e nunca vai ser paga, e mostrar que ela não tem nada a ver com a dívida de uma pessoa ou uma família, como a televisão gosta de dizer. Então, essa emenda constitucional vai obrigar o Estado a continuar entregando o nosso dinheiro para um punhado de agentes financeiros. É isso que queremos que seja feito com os recursos dos nossos impostos?

O governo Temer anunciou a pretensão de congelar os gastos públicos por um ano a partir de uma emenda constitucional. O objetivo é limitar o crescimento do gasto público ao percentual à inflação do ano anterior. Quais as consequências dessa medida para o serviço público?

A PEC 241/16 prevê congelamento dos gastos públicos por 20 anos, podendo ser corrigido apenas pela informação. Isso significa que a estrutura de gastos atual será mantida, não importa o que ocorra e nem que governo assuma. Hoje, quase a metade do dinheiro público, o nosso dinheiro, é usado para pagar juros e amortização da dívida pública – gostaria de ter espaço aqui para explicar porque a dívida pública não precisa e nunca vai ser paga, e mostrar que ela não tem nada a ver com a dívida de uma pessoa ou uma família, como a televisão gosta de dizer. Então, essa emenda constitucional vai obrigar o Estado a continuar entregando o nosso dinheiro para um punhado de agentes financeiros. É isso que queremos que seja feito com os recursos dos nossos impostos?

Temos visto um grande aumento no número de desempregados no país. Como o atual cenário está relacionado com este aumento?

O desemprego é um fenômeno típico do capitalismo. Quando este entra em crise, há demissões, para depois recontratar com salários e direitos reduzidos. Nós estamos vivendo uma crise econômica grave e mundial, por isso, aqui no Brasil, os empresários querem aproveitar o momento para aprovar aquelas medidas que precarize ainda mais as condições de trabalho, assim aumentam a exploração e retomam o (seu) crescimento econômico, às custas do trabalho de todos nós.

De que forma o atual contexto político-econômico influenciar as eleições municipais deste ano?

Não creio que o atual cenário vá influenciar muito nas eleições municipais. Nas grandes capitais sim, mas nas cidades médias e pequenas o processo eleitoral não está relacionado com grandes debates políticos, aliás, o verdadeiro debate político desapareceu depois que o PT promoveu uma verdadeira campanha de despolitização da população. Um verdadeiro debate político deveria falar de programa de governo e de poder, deveria ajudar a população a entender o que é política e o papel do Estado e de que lado ela quer estar. Mas o que temos hoje é um debate sobre "gestão". O Estado não é uma empresa e não deve ser gerido como uma empresa. O Estado é um espaço de poder e o verdadeiro debate político deveria tratar disso. Por exemplo, uma campanha política deveria ter diferentes partidos que dissessem claramente para quem eles irão governar, se para os pobres, os trabalhadores, ou para os riscos e empresários. Não existe essa de governar para todos, para o povo em geral, pois não existe o povo em geral, os interesses são tão divergentes entre os trabalhadores e os empresários que são inconciliáveis. Por isso as campanhas eleitorais são todas iguais, ninguém consegue distinguir as reais intenções de cada candidato e ganha aquele que tiver mais dinheiro para gastar na campanha. Depois vai ter que devolver, na forma de corrupção, para os financiadores da campanha. Essa é a política brasileira, piorada pelos anos do PT nos governos.

Existe saída para o trabalhador?
Existe sim, mas ela não passa pelas eleições. Estamos aprendendo isso. A saída é a organização dos trabalhadores para defender seus direitos. Não importa se as nossas lutas vão prejudicar este ou aquele governante, ou dirigente sindical que não incentive a luta da sua categoria. Só nós vamos defender nossos direitos, ninguém mais. Não adianta terceirizar a luta, pois toda terceirização só traz prejuízos. Por isso, vamos à luta. Só a luta muda a vida.

As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.

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