Nesta edição d’O Piquete Bancário convidamos a jornalista Claudia Santiago para nossa entrevista sobre políticas e eleições municipais. Cláudia também é historiadora e coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação. Confira.
De acordo com o cenário de descrédito na política, como a sra. vê o comportamento dos partidos políticos no país?
Os partidos de direita se comportam como sempre. Fazem falsas promessas, trazem o leitor no cabresto dos novos coronéis, trocam consultas médicas, camisas de time de futebol por votos, ameaçam. Isso não acontece só nos interiores não. Muitos hoje usam e abusam da religião através de programas televisivos para também controlar o voto. Os de esquerda precisariam pensar mais nos interesses históricos e imediatos dos trabalhadores, menos em interesses locais ou mesmo pessoais e pensarem um plano de terem candidatos fortes na disputa pelas prefeituras. Mas não vejo que isso vá acontecer.
Com as regras eleitorais atuais, a sra. acredita que pode haver um cenário político diferente para as próximas eleições municipais 2016?
Sou bastante pessimista quanto ao resultado das eleições municipais deste ano. Acho que a onda conservadora cresce e vai, mais uma vez, aparecer nesse resultado. Mas, algumas mudanças nas regras eleitorais podem ter influência no jogo. Pelo lado positivo, temos o fim do financiamento privado para campanhas eleitorais. Isso é bom porque começa a diminuir a influência do poder econômico sobre os candidatos eleitos. Por outro lado, existe a regra que determina que apenas candidatos de partidos que tenham mais de nove deputados federais têm direito assegurado de participar dos debates. Isso pode prejudicar candidatos importantes e que estão bem colocados nas pesquisas de intenção de voto. É o caso, por exemplo, do pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, do PSOL. Essa é uma determinação negativa e que prejudica os pequenos partidos.
Como a população pode fazer com o que seu voto seja respeitado após o resultado das eleições? Como cobrar por seus direitos?
É preciso que sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda fortes se comuniquem com a população diariamente e digam factualmente o que se passa. Se a população continuar a ser informada (desinformada) por seis famílias que controlam a comunicação no Brasil, não há como saber o que se passa e consequentemente cobrar seus direitos. Essas famílias têm enormes interesses econômicos e ideológicos. Sem uma comunicação própria dos trabalhadores e compromisso com os fatos, não vejo como a população pode se informar.
Quais as recomendações para que o eleitor fique atento e não caia nas armadilhas do voto influenciado pela mídia ou pelo poder econômico?
Procurar conhecer a história de vida do candidato ou candidata e da sua família. Se forem de famílias que controlam a política há muitos anos é um perigo. Enquanto o sistema político for este, um caminho é ver quem paga a campanha. Se um banco financia, não vai ser bom para os bancários. Se for financiado por uma igreja, também merece desconfiança. Igreja nenhuma pode determinar em quem seus fiéis irão votar. Pode debater o tema, mas não pode dizer: vote neste ou naquele.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.