A representante dos bancários no Conselho de Administração do Banco do Brasil (Caref), fala sobre os desafios em sua atuação e a mobilização da categoria. Confira.
Quais são as principais dificuldades que você encontra na representação do Caref e as expectativas da construção de uma posição em defesa dos bancários neste espaço? São muitas dificuldades, mas a principal é que sou apenas uma representante eleita entre oito que estão representando os interesses minoritários do banco e do acionista majoritário, que é o governo federal. Todos eles hoje têm uma visão comum de um banco muito mais privado do que público, e eu sou a única ali dentro que defende um projeto de banco público, voltado para os trabalhadores do país. Eu tento defender também o ponto de vista dos funcionários, seus interesses, porque como consequência dessa visão de banco privado, cada vez mais os funcionários são atacados. É mais assédio moral e mais pressão por vendas. Além disso, outra dificuldade é que, por lei, eu não posso discutir nada que tenha a ver diretamente com funcionários porque há conflitos de interesses e isso é um absurdo. Tem também o problema do sigilo, pois o BB trata tudo como se fosse sigiloso, eu tenho que dizer tudo de forma geral. O banco não me dá nenhuma estrutura, como um boletim para eu me comunicar com os colegas e eu não posso usar e-mail corporativo. O que a gente quer é colocar o nosso mandato a serviço da mobilização da categoria porque é a única saída para superar esses problemas que existem no banco. Outra dificuldade que a gente tem é que eu fui eleita contra a maioria dos sindicatos do país, que são ligados à Contraf. Não é o caso do Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista, que abriu esse espaço e me convidou para vir aqui. O ideal é que fosse possível fazer isso em vários outros locais do país.
Quais são os principais desafios para a mobilização da categoria na atual conjuntura? São muitos. Um deles é que temos que brigar contra a ideologia implantada pelo próprio banco que é a questão do individualismo. Os bancários dependem de uma comissão para viver e muitos foram entendendo ao longo do tempo que precisam ser subservientes para serem comissionados. A saída não pode ser individual, tem que ser coletiva, até porque não há comissão para todo mundo. Mas eu acho que há uma dificuldade ainda maior e tem a ver com a direção da maioria dos sindicatos. Se olharmos as lutas dos bancários nos últimos anos, todas foram muito controladas pelas direções dos sindicatos que eram extremamente atreladas ao governo do PT, que esteve no poder nos últimos 13 anos e optaram muito mais por defender o governo do que por defender a categoria. Isso gerou uma desmoralização. Precisamos participar mais.
De que forma as visitas realizadas na base do SEEB/VCR contribuem para a gente avançar nesse processo e como você avalia a mobilização aqui na nossa base? É sempre importante dar consciência às pessoas dos problemas que estamos vivendo. Tentamos fazer um pouco isso nessas visitas buscando a mobilização. As pessoas se acostumaram a terceirizar as coisas para o sindicato, e eu acho que nosso papel é dizer que é preciso se mobilizar. Aqui foi muito legal porque a gente conseguiu fazer isso com a diretoria do Sindicato, conscientizar a respeito desse processo do BB que prejudica os funcionários e a população, que precisa de um banco público. Eu acho que tem um vento de mudança. A minha eleição é uma prova disso. A chapa de oposição ganhou a eleição da Cassi, e isso tudo prova que o funcionalismo está muito descontente com a situação atual. Mas é preciso mais do que isso. Eu acho que o Sindicato aqui de Vitória da Conquista é um exemplo, é um grupo que ganhou a diretoria recentemente e tomou para si essa tarefa de mobilizar os bancários com um princípio que para nós é muito caro: a independência em relação aos governos e às direções dos bancos. Esse tem que ser o pressuposto de toda direção sindical. Se você não tem essa independência, você não mobiliza os bancários. A gente pôde perceber nas visitas que o SEEB/VCR é muito bem visto justamente por isso.
De que forma você acha que o atual cenário vai interferir na construção da Campanha Salarial deste ano? Eu acho que esse governo Temer já prova que pretende aplicar o ajuste fiscal de forma mais dura que o governo anterior. Digo ‘pretende’ porque eu acho que a mobilização dos trabalhadores vai dizer se vai conseguir ou não. Esse ajuste, a Dilma já estava tentando aplicar, mas de tão desgastada não conseguiu mais. Nós temos um cenário mais complexo para a Campanha Salarial por causa da crise refletindo no resultado do lucro dos bancos. Eu acho que a patronal e o governo vão endurecer e o grande ponto de interrogação é qual vai ser a atitude da grande maioria dos sindicatos, particularmente aqueles ligados à CUT. Acredito que a única alternativa para que a gente tenha uma Campanha Salarial com vitórias é lutar juntos, sem ficar apostando agora que eles estão na oposição, e organizar um movimento independente para que a gente consiga avançar.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.