No Dia Mundial da Saúde Mental, a Fenae chama atenção para o debate em torno do adoecimento em massa dos trabalhadores da Caixa
Apatia, mudanças de humor ou de comportamento, tristeza, ansiedade, desesperança, agressividade excessiva ou postura muito passiva, isolamento social. Esses podem ser alguns dos sintomas dos trabalhadores que sofrem de transtornos mentais e comportamentais.
No dia 10 de outubro de 1992, as Nações Unidas assinalaram o Dia Mundial da Saúde Mental. Quase 30 anos depois, o cenário é desesperador: estima-se que 322 milhões de pessoas no mundo sofrem com depressão.
A Fenae vem alertando para esse cenário também dentro do maior banco do país. Os trabalhadores da Caixa estão em constante sofrimento diante do modelo de gestão que estimula o excesso de trabalho e as metas abusivas. A falta de perspectiva diante da possível privatização do banco e as ameaças ao Saúde Caixa também são apontados pelo Presidente do CDN, Paulo Moretti, como fatores determinantes para o adoecimento.
Na campanha de 2017, a Organização Mundial da Saúde destacou a saúde mental no local de trabalho já que grande parte da vida adulta é passada nesse ambiente. Segundo a entidade, empregadores e gerentes que investem em iniciativas para promover saúde mental e apoiar os funcionários com desordens mentais conseguem ganhos não somente na área da saúde, mas também nos níveis de produtividade.
Apesar disso, a situação ainda é totalmente negligenciada pela gestão da Caixa. Segundo a química, ergonomista e técnica da Fundacentro aposentada, Cristiane Queiroz as organizações e a sociedade em geral falham no atendimento ao trabalhador e buscam negar a existência da doença ou descaracterizar a relação dela com o trabalho.
“Ainda parece que falar sobre saúde mental não é prioridade. Um exemplo é que quando vamos ao médico, o profissional não nos pergunta com o que trabalhamos ou quantas horas trabalhamos. E muitas vezes a respostas das dores físicas e dos problemas psicológicos estão no ambiente de trabalho, pontuou Cristiane Queiroz no I Seminário sobre Saúde Mental dos Empregados da Caixa, promovido em setembro pela Fenae.
Assédio moral
O chamado assédio moral é um dos problemas mais recorrentes dentro das agências. O assédio moral é uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida que visa humilhar e desqualificar um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho. No trabalho do bancário, essas ações são traduzidas na política de metas, cobranças constantes por resultados, pressão, ou seja, até as pessoas saudáveis sucumbem ao longo do tempo nos ambienteis hostis.
A pesquisa Saúde do Trabalhador da Caixa, encomendada pela Fenae revelou que quase 30% dos trabalhadores da Caixa reclamam de pressão excessiva por metas. Na pesquisa foram feitas perguntas sobre uma série de situações típicas de assédio moral na relação com a chefia direta, tais como demanda excessiva por trabalho, pressão, atribuição indevida de erros, ameaças, gritos, entre outras. Entre os entrevistados, 53,6% disseram ter passado por ao menos um desses episódios. Situações como essas também ocorrem com outros colegas, segundo relatam 81,3% dos entrevistados.
O psicólogo Eduardo Pinto e Silva explica que o assédio moral foi ao longo dos anos se institucionalizando a partir do encorajamento de um modelo de gestão fundado em maus-tratos. Esse comportamento é traduzido facilmente pelos números: apenas 3,1% dos casos de assédio moral foram registrados junto ao departamento de Recursos Humanos da Caixa.
Os episódios costumam ser subnotificados e o sofrimento das pessoas permanece muitas vezes disfarçado pelo medo de perder a função, de sofrer outros tipos de represália ou mesmo pelo receio de se expor ou ser julgado pelos colegas.
“São necessárias urgentes transformações organizacionais. Temos que dar o espaço da palavra para o trabalhador e a gestão precisa escutar e acatar as contribuições. Só assim iremos começar a encarar de frente esse problema”, afirma Eduardo.
Suicídio
De acordo com a Organização Mundial da Saúde cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no mundo, ou seja, uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, estima-se que o número chegue a 6,3 mil a cada 100 mil habitantes sendo os bancários uma categoria altamente atingida. A pesquisa da Fenae mostrou que cerca de 47% dos empregados da Caixa já tiveram conhecimento de algum episódio de suicídio entre colegas.
“O suicídio é a patologia da solidão e o limite em termos de sofrimento. Historicamente os bancários são submetidos a disputas entre os colegas, individualismo levando os laços de solidariedade se afrouxarem. Na cultura da solidão é muito mais fácil sucumbir a um processo de assédio”, pontuou Marcelo Finazzi, autor do livro Patologia da solidão: o suicídio dos bancários no contexto da nova organização do trabalho.
O especialista explica também que é fundamental que a sociedade e as organizações passem a olhar para os trabalhadores e estabeleçam pontes para diálogo. Segundo ele, de repente o trabalho começa a ser uma fonte inesgotável de sofrimento e isso reflete não só na saúde mental, mas também na saúde física.
“Precisamos urgentemente falar sobre esse assunto. Saúde Mental não pode mais ser tabu na Caixa e nem em lugar nenhum. Milhares de trabalhadores estão sucumbindo e entregues aos mais diversas formas de sofrimento mental, a Caixa precisa encarar esse problema de frente”, protesta a Diretora de Saúde e Previdência da Fenae, Fabiana Matheus.
A Fenae vem trabalhando incansavelmente para prevenir e reverter esse cenário tão assustador e triste. Com a campanha “Não Sofra Sozinho”, a entidade lança o projeto de prevenção ao adoecimento mental no trabalho com coordenação da pós-doutora, psicóloga e professora da UnB, Ana Magnólia Mendes. O estudo vai subsidiar os dirigentes da FENAE e APCEFs para proposição de políticas e práticas sindicais e institucionais de prevenção das psicopatologias do trabalho na Caixa.
Se você sofrer ou presenciar alguma atitude abusiva por parte dos gestores com você ou algum colega, denuncie à Apcef e ao sindicato! Não Sofra Sozinho!
Fonte: Fenae