No mês em que se celebra os 80 anos do nascimento de Chico Mendes, o documentário Empate, dirigido por Sérgio de Carvalho, traz ao cinema a memória do seringueiro, sindicalista e ambientalista. O filme estreou no dia 5 de dezembro e segue em exibição nos cinemas de todo o país, retratando o legado de Francisco Alves Mendes Filho com sua luta pela preservação da Amazônia e pelos direitos dos povos da floresta.
“A história do Chico é fundamental para entendermos as questões da terra, dos movimentos sociais e da opressão vivida pelos povos tradicionais, como seringueiros e trabalhadores rurais”, define Sergio Carvalho, em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (13).
Empate reflete sobre o movimento seringueiro das décadas de 1970 e 1980, que utilizou estratégias pacíficas, como os “empates”. Essas eram ações em que seringueiros impediam o avanço do desmatamento dialogando com os trabalhadores contratados para derrubar a floresta. Treze dias antes de ser assassinado, em dezembro de 1988, Chico Mendes teve um depoimento publicado no Jornal do Brasil, explicando o termo.
“A gente se coloca diante dos peões e jagunços, com nossas famílias, mulheres, crianças e velhos, e pedimos para eles não desmatarem e se retirarem do local. Eles, como trabalhadores, a gente explica, estão também com o futuro ameaçado. E esse discurso, emocionado, sempre gera resultados. Até porque quem desmata é o peão simples, indefeso e inconsciente”, registrou o Jornal do Brasil em 9 de dezembro de 1988.
Passados 36 anos da publicação em jornal, a ação pacífica e estratégica ganha projeção nas telonas. A narrativa do filme é construída a partir dos relatos dos próprios companheiros de luta de Chico Mendes, destacando a força coletiva do movimento e os desafios enfrentados na época. “O grande diferencial de Chico foi sua capacidade de comunicação e articulação. Ele trouxe outros agentes para a luta, dando visibilidade a questões que, na época, eram ignoradas pela mídia e pelo governo”, definiu durante a entrevista.
Segundo Sérgio de Carvalho, a proposta do filme vai além de relembrar o Chico Mendes como um herói distante. “A ideia era trazer um Chico histórico e humano, o pai e líder que seus companheiros conheceram. Essa abordagem ajuda a conectar o legado dele com os problemas atuais, que ainda ecoam na Amazônia e no mundo”, afirmou o diretor.
A inspiração veio do trabalho de Eduardo Coutinho, que registrava a história a partir das vozes anônimas envolvidas nos grandes eventos. A ideia para o roteiro nasceu do encontro entre Sérgio de Carvalho e a filha de Chico Mendes, Elenira Mendes, que procurou o diretor na ocasião dos 20 anos do crime que tirou a vida do ambientalista.
O filme também celebra a vida de Chico Mendes, ressaltando sua visão de sustentabilidade. O modo de vida dos seringueiros, baseado na extração do látex sem destruição da floresta, contrastava com a exploração predatória promovida por latifundiários. A capacidade de articulação de Chico foi fundamental para que questões como desmatamento e grilagem ganhassem visibilidade nacional e internacional.
Além de documentar a resistência da população seringueira, o longa-metragem destaca momentos marcantes, como o Empate da Cachoeira, no qual mulheres lideraram uma ação pacífica cantando o Hino Nacional, desarmando simbolicamente os policiais presentes. “Foi um momento épico de resistência”, relembra Sérgio.
A obra chega em um momento oportuno, convidando o público a refletir sobre as lutas sociais e ambientais no Brasil contemporâneo. Para Sérgio, Empate é mais do que um tributo: “É uma forma de manter vivo o legado de Chico Mendes, mostrando que sua luta não acabou e que a defesa da Amazônia ainda é urgente.”
Fonte: Brasil de Fato.