Nesta semana conversamos com a representante dos bancários no Conselho de Administração da Caixa e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa da Empresas Públicas, Rita Serrano, sobre a atual conjuntura das estatais.
Qual a importância das empresas públicas para o desenvolvimento nacional?
As empresas públicas foram fundamentais na década passada pelos investimentos no desenvolvimento econômico e social, melhorando a qualidade de vida da população e contribuindo para o aumento da produção industrial, agrícola, tecnológico e de infra- estrutura. Para termos uma noção, a Caixa Federal tem quase 70% do crédito habitacional do país, o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste, juntos, 70% do crédito agrícola. O BNDES é o maior financiador da indústria do país, a Eletrobrás foi responsável por levar, através do programa “Luz para todos”, energia elétrica para os lugares mais distantes e carentes do Brasil. A Petrobrás fez a descoberta da maior reserva de petróleo do mundo que é o pré- sal. A Embrapa é uma das maiores empresas de tecnologia agrícola do mundo e responsável pelo aumento da produção de alimentos e por aí vai.
No atual cenário político-econômico do Brasil, o que representa os ataques às empresas públicas?
Vivemos um momento de instabilidade política e econômica com um Congresso conservador e reacionário, golpe no afastamento da presidenta eleita, presidente ilegítimo prestes a perder o mandato e meios de comunicação impondo narrativa de retirada de direitos e privatização empresas.
O modelo de Estado de bem-estar social, que estava sendo construído, perde espaço rapidamente para Estado mínimo e em consequência vai acontecendo o desmonte das empresas públicas, porque esse governo e o Congresso, na sua maioria tem compromisso com o capital privado e atua para desmantelar todo o patrimônio público. Nas empresas públicas o cenário é de venda de ativos, privatização e terceirização das operações, corte de empregados, retirada de direitos e fechamento de unidades.
Tanto o Banco do Brasil quanto a Caixa Econômica Federal passaram por uma série de medidas que pioraram ainda mais as condições de trabalho para os bancários, de que forma essas ações colocam fragilizam essas empresas?
Os bancos federais, Caixa, BB, BNDES, BNB e Basa, e os poucos Estaduais que sobraram vêm sendo atacados e ameaçados de privatização a partir de suas operações e serviços, concomitante a isso os planos de demissão voluntária ocorrem sem a contrapartida da contratação e com isso as condições de trabalho e atendimento vão piorando, além da restrição ao crédito e investimentos colocados pelo governo, que paralisa o pais e dificulta a saída de crise econômica.
Neste último final de semana aconteceram os congressos nacionais do BB e CEF, em São Paulo. Em ambos, a defesa das empresas públicas está pautada. Como deve se dar a organização da categoria bancária em torno deste tema?
Resistência ao golpe e debate nos locais de trabalho sobre todas as garantias que estão em jogo são fundamentais para tirar as pessoas da apatia e organizar o contra-ataque. Temos quase 200 mil formadores de opinião na Caixa e no BB, que são os empregados, em todos os cantos do país, um baita exército lidando diariamente com milhares de pessoas. É preciso que cada um faça sua parte defendendo a importância do banco para o desenvolvimento do Brasil. O desafio contra o desmonte do Estado na década de 90 e pela manutenção da Caixa pública, mesmo com muitos percalços e perdas, demonstrou nossa capacidade de perseverança, solidariedade e garra. A campanha em defesa da Caixa 100% Pública e contra o PLS 555 foi vitoriosa graças à união de forças, organização e articulação. Entidades sindicais e associativas sempre foram e continuam sendo essenciais para esses enfrentamentos. Portanto, vamos arregaçar as mangas e lutar.
De que forma a senhora avalia a atual conjuntura e o que resta de alternativa para nós, brasileiros?
A conjuntura é difícil, mas as pessoas vêm acordando e tomando atitudes. Percebi na minha visita a Vitória da Conquista no início do ano, uma grande vontade de lutar dos bancários que tem um sindicato com pessoas motivadas e comprometidas, é disso que precisamos, pode demorar um pouco, mas vamos vencer essa batalha com certeza.
Qual tem sido o papel do Comitê em Defesa das Empresas Públicas?
Com a mobilização contra o PLS 555 nasceu o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, no início de 2016. Formado por entidades representativas de categorias organizadas – como a Fenae, a Contraf, a Federação dos Petroleiros (FUP) e seis centrais sindicais, entre muitas outras, o Comitê é uma instância organizativa de alcance nacional, promotor de debates, seminários e ações contra a privatização de empresas e serviços públicos. Embora tenha sido criado ainda no governo Dilma, o comitê vai exercer papel preponderante a partir do golpe institucional no País, já que o governo ilegítimo retoma a linha privatizante dos anos FHC com todo vigor. É assim que, em junho de 2016, nasce a campanha “Se é Público, é para Todos”, lançada no Rio de Janeiro. A campanha se espalha pelo país, com a realização de debates em mais de 14 estados e é levada até a Argentina, num encontro de bancos promovido pela Uni Américas. Desde então, com as investidas cada vez mais fortes contra empresas e serviços públicos de todos os níveis, o Comitê vem protagonizando dezenas de ações que atingem desde as categorias organizadas até o Congresso Nacional, aglutinando cada vez mais entidades. É uma unidade ímpar, extremamente positiva num momento como o que estamos vivendo. Tenho certeza de que nossas ações já conseguiram brecar muitas investidas contra as empresas públicas, e continuaremos assim, ampliando nossa capacidade informativa e de organização.
As opiniões expressas no artigo não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.