Brasil, que já é um dos 15 países mais desiguais do mundo, conseguiu ver a concentração de renda aumentar fortemente no ano passado, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra Domicílios Contínua (Pnadc), que trata de todas as fontes de rendimento, divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE. Por qualquer medida que se use, os mais ricos no país concentraram renda, enquanto os mais pobres sofreram com queda na renda e nas condições de vida.
A renda média do 1% dos trabalhadores mais ricos subiu de R$ 25.593 para R$ 27.744, alta de 8,4%. Já entre os 5% mais pobres, o rendimento do trabalho caiu 3,2%. Nesse grupo, o ganho mensal baixou de R$ 158 para R$ 153.
Com isso, o Índice de Gini, que mede a concentração de renda e, quanto mais perto de 1, pior, subiu de 0,538 para 0,545, considerando todas as rendas das famílias – trabalho, aposentadorias, pensões, aluguéis, Bolsa Família e outros benefícios sociais. É o maior Gini desde 2012.
Uma das razões para o aumento da desigualdade em 2018 foi o aumento da precarização do mercado de trabalho, com aumento dos empregos informais. No ano passado, eram 35,42 milhões de pessoas, em média, recorde da série histórica do IBGE.
Segundo Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad Contínua, o fenômeno tem relação com a crise no mercado de trabalho, que afetou especialmente o extrato de trabalhadores com menor qualificação e menor remuneração.
— A população ocupada vem crescendo, o rendimento vem crescendo, mas essa ocupação vem da informalidade. Por isso percebemos esse aumento da desigualdade — afirma Maria Lucia — Os mais pobres acabam sofrendo mais do que aqueles com carteira de trabalho ou os funcionários públicos.
No mercado de trabalho, a concentração também aumentou. O Índice de Gini da renda do trabalho subiu de 0,501 para 0,509, a maior taxa desde 2012. E, apesar da piora na desigualdade, a cobertura do Bolsa Família caiu nos últimos anos, mostra o estudo do IBGE.
Com o aumento da concentração de renda, o topo da pirâmide no Brasil está se apropriando de uma fatia maior da renda nacional. O 1% mais rico recebe 12,2% de todos os rendimentos no país. Em 2017, essa fatia era de 11,7%. São R$ 34,8 bilhões nas mãos de pouco mais de 2 milhões de pessoas.
Na análise por estados, o índice de Gini piorou em 18 das 27 unidades da federação em 2018, se comparado a 2017. Em uma, ficou estável, e em outras oito, houve melhora do indicador. O estado com maior desigualdade foi o Sergipe, com índice de 0,575. A menor disparidade entre ricos e pobres foi registrada em Santa Catarina (0,417).
Para Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, os resultados apresentados indicam um agravamento de um cenário tradicionalmente histórico no país.
— A desigualdade brasileira é algo histórico, bastante forte. Com esse aumento (da desigualdade), permanecemos como um país com um índice bastante complicado e que persiste.
10% mais ricos têm mais que 80% mais pobres
Já os 10% mais pobres abocanharam bem menos: 0,8% da massa de rendimentos em 2018 contra 0,9% em 2017. Significa dizer que 20 milhões de pessoas ficaram com apenas R$ 2,2 bilhões.
A pesquisa do IBGE também mostrou que mais da metade dos brasileiros têm renda inferior a um salário-mínimo. E constatou que as disparidades de rendimento são grandes entre brancos e negros. O trabalhador branco recebe 75% a mais do que pretos e pardos.
“A parcela dos 10% com menores rendimentos da população detinha 0,8% da massa, vis à-vis 43,1% dos 10% com os mais rendimentos. Além disso, cabe observar que este último grupo mostrou possuir uma parcela da massa de rendimentos superior à dos 80% da população com os menores rendimentos (41,2%)”, diz a pesquisa.
Segundo a pesquisa, o ganho médio do topo da pirâmide de renda era “33,8 vezes mais que o rendimento médio da metade da população com menores rendimentos (cujo rendimento médio mensal era de R$ 820)”, constata a publicação.
Essa diferença é a maior desde 2012, início da nova pesquisa do IBGE, quando era de 33,1 vezes. A distância salarial vinha caindo até 2014, ficou estável até 2016. No ano seguinte, começa a subir.
Sudeste, a região mais rica do país, convive com o maior abismo salarial. O 1% mais rico ganha 34,4 vezes mais que os 50% mais pobres, que conseguiram manter apenas os R$ 971 que ganhavam, ligeiramente acima do salário mínimo vigente em 2018 de R$ 954.
Os trabalhadores que estão entre 30% mais pobres perderam renda em 2018. Recomposição salarial só acontece para os que estão dos 40% mais ricos para cima.
Fonte: O Globo.