A diferença salarial de 45% entre brancos e negros no Brasil captada pelo IBGE em 2019 não pode ser integralmente explicada sem que se recorra a um fator: racismo.
Quando isoladas variáveis como grau de instrução e experiência, a disparidade na remuneração entre brancos e negros não justificada por outros fatores continua significativa, de 31%, segundo estudo do Instituto Locomotiva publicado nesta Folha.
O dado não é novo. Pesquisa internacional em 2018 atribuiu ao viés racial dos processos de seleção e promoção das empresas um quarto da disparidade salarial entre negros e brancos no Brasil.
Embora seja expressiva a evidência estatística, as medidas tomadas no setor privado, em resposta, caminham a passos bem menos assertivos. Promover equidade racial requer enfrentar barreiras estruturais em múltiplos níveis.
Demanda, de um lado, quebrar as bolhas de acesso. Iniciativas que busquem ligar empresas a profissionais negros qualificados são bem-vindas como forma de combater redes de contato que perpetuam diferenças raciais, em especial em cargos de liderança.
Empresas têm revisto seus processos de seleção e avaliação de desempenho para mitigar os efeitos de vieses raciais, por vezes inconscientes, por vezes não.
Tem se tornado comum, por exemplo, a prática de currículos às cegas, onde informações sensíveis como endereço do candidato são omitidas. Iniciativas mais promissoras têm sido vistas nas primeiras fases da carreira, em especial de estagiários e trainees.
O desafio, portanto, reside em incrementar a representatividade de profissionais negros nos cargos intermediários e de liderança. Uma vez inseridos, é preciso garantir-lhes oportunidades e um ambiente profissional inclusivo.
Empresas mais diversas tendem, internamente, a reduzir o absenteísmo e ser mais inovadoras. Externamente, ampliam redes de contato e melhoram a conexão com diversos públicos consumidores.
Muitas têm atuado em conjunto com concorrentes em coalizões e fóruns, mostrando que mais diversidade tende a beneficiar a todos.
Ao setor público, no entanto, cabe pensar políticas que enfrentem a questão da informalidade. Dados do IBGE de 2019 mostram que quase metade da população negra (46,9%) ocupa vagas precárias. Sem esta mudança, o racismo salarial persistirá.
Fonte: Folha de São Paulo