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Ato com Caetano Veloso em Brasília reúne milhares contra o ‘Pacote da Destruição’

Enquanto artistas, ambientalistas, movimentos sociais e estudantes faziam ato público em frente ao Congresso Nacional nesta quarta (9), o cantor e compositor Caetano Veloso foi recebido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A razão para ambas as mobilizações foi protestar contra o chamado “Pacote da Destruição“. Se aprovado, o conjunto de projetos de lei em tramitação vai facilitar o desmatamento, a mineração e o garimpo em terras indígenas, além de deixar a floresta à mercê da ação de grileiros e criminosos e até descontrolar completamente o uso de agrotóxicos no país. A transmissão do ato cultural (acima) é do Mídia Ninja.

A concentração para o Ato pela Terra começou por volta das 14h na avenida das Bandeiras, em frente ao Congresso Nacional. O grupo protestou especialmente contra seis projetos de lei (PL):

  • PL nº 2.159, que torna o licenciamento ambiental uma exceção, em vez de ser a regra;
  • PL nº 2.633 e o PL nº 510, que concedem anistia à grilagem em terras públicas;
  • PL nº 490, que trata do chamado “marco temporal” das terras indígenas, que estabelece que povos indígenas só podem reivindicar as terras que eles ocupavam no momento em que a Constituição de 1988 foi aprovada;
  • PL nº 191, que autoriza a mineração e a construção de hidrelétricas em terras indígenas, até mesmo naquelas em que há indígenas isolados;
  • e o PL nº 6.299, o chamado “Pacote do Veneno”, que revoga a atual Lei de Agrotóxicos (7.802/89) e flexibiliza ainda mais a aprovação e o uso de agrotóxicos no país.

Antes do grande cultural, às 15h ambientalistas e representantes de organizações sociais participaram de uma audiência pública no Senado. Eles conversaram com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na oportunidade, Caetano Veloso entregou uma carta ao chefe do Senado e chegou a cantar o refrão da música Terra, no Salão Negro do Congresso.

Dirigindo-se ao senador, o artista lembrou o sofrimento humano provocado por tragédias climáticas e ambientais como Mariana, Brumadinho, as chuvas recentes em regiões dos estados de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, onde a cidade de Petrópolis ainda recolhe vitimas entre destroços. E advertiu que tudo pode piorar. “O Brasil vive hoje sua maior encruzilhada ambiental desde a democratização. O desmatamento saindo do controle. A violência contra indígenas e povos tradicionais e a nossa credibilidade internacional arrasada”.

Caetano Veloso apelou a Rodrigo Pacheco: “O simples fato de o senhor nos receber aqui é sinal de que tem preocupação com essa agenda, que é central no presente e futuro do Brasil. E nós dois temos motivos de sobra para estarmos preocupados com a questão ambiental”.

Por sua vez, Pacheco afirmou que embora o agronegócio brasileiro tenha a sua importância econômica na pauta de exportações – o setor é o principal interessado na aprovação desses projetos de lei – não pode ser o único contemplado. E disse concordar que os impactos dessas propostas são graves para o meio ambiente, afirmando em público que o Senado vai analisar todas as questões “com zelo, cautela e responsabilidade”. “O Brasil não pode ser pária ambiental”, disse.

Mais de 200 artistas

Em seguida, por volta das 17h30, o grupo voltou para a área externa do Congresso, onde artistas e ativistas fizeram discursos. Entre os artistas presentes, estavam Maria Gadú, Seu Jorge, Nando Reis, Bela Gil, Cristiane Torloni, Letícia Sabatella, Bruno Gagliasso e Lázaro Ramos. Entre os movimentos e organizações, estiveram representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Greenpeace Brasil, Observatório do Clima, ClimaInfo e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Leia trechos dos discursos de artistas e ativistas: 

“Eu estou aqui para que a gente possa frear esses projetos de lei. É um pacote de destruição. Eu só queria trazer essa reflexão, que a gente precisa cuidar e olhar para a mãe terra e cuidá-la para que a gente possa regenerá-la, e quem coloca comida no nosso prato são mulheres que plantam sem veneno” – Bela Gil, ativista.

“As mulheres defendem a terra, as mulheres são contra o veneno, as mulheres são pela saúde e pela alimentação saudável. A gente tem muita luta este ano, a gente precisa converter principalmente quem é isento, quem não se aprofunda e quem não entende o que é o agronegócio. Quem alimenta o brasil é a agricultura familiar” – Bel Coelho, chefe de cozinha.

“O nosso país é fruto de uma história perversa de muita violência, mas também de muita resistência, porque, ao contrário do que eles queriam, nós estamos aqui e vamos superar este momento bárbaro da história brasileira. E nós já superamos momentos piores, de 400 anos de escravidão. Os povos indígenas precisam e terão a demarcação de territórios indígenas, o povo quilombola terá seus territórios titulados, o povo ribeirinho, os povos da floresta terão seus direitos!” – Douglas Belchior, historiador e ativista da Coalizão Negra por Direitos.

“A gestão branca deu ruim. Não sabem fazer, saem matando. Eu olho praquele Congresso [Nacional] e só vejo branco fazendo a mesma coisa, o mesmo genocídio. Eu não me vejo ali. Não vamos arredar o pé, não vamos dar mole, não vamos recuar, temos obrigação cívica de impedir o pacote do veneno” – Elisa Lucinda, atriz e escritora.

Fonte: CUT.

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