Presidente quebra tradição ao deixar de reconhecer vitória de Lula na sequência de confirmação pelo TSE
Fonte: Folha de São Paulo
Desde 1989, quando foram realizadas as primeiras eleições após a ditadura militar (1964-1985), o candidato à Presidência derrotado sempre se manifestou logo após o resultado oficial. Naquele ano, o político em tal situação era Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito neste domingo (30) pela terceira vez.
O atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), quebrou essa tradição ao ir dormir sem reconhecer a vitória do oponente, confirmada pelo TSE (Tribunal Superior Tribunal). Às 22h06, as luzes do Palácio da Alvorada foram apagadas sem pronunciamentos a apoiadores ou visitas de aliados —o presidente se isolou e não quis receber ministros, apenas seu candidato a vice-presidente, Walter Braga Netto (PL).
A atitude está em linha com a postura adotada por Bolsonaro ao longo de seu mandato, durante o qual levantou dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral. As acusações recaem inclusive sobre as eleições de 2018, quando venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno por mais de dez pontos percentuais.
No dia do primeiro turno deste ano, ele foi questionado repetidas vezes se reconheceria o resultado, mas não respondeu. “Com eleições limpas, sem problema nenhum, que vença o melhor”, disse, antes de votar.
A última tentativa de levantar suspeitas sobre as eleições foi com um relatório de supostas fraudes que teriam sido cometidas por rádios no Nordeste. O documento, que apresenta fragilidades, alegava ter havido desigualdade na veiculação das inserções de propaganda das campanhas dos dois candidatos.
Em 1989, Lula se manifestou dois dias após a votação, quando 96,69% das urnas haviam sido apuradas —naquele pleito, o sistema era de votação em papel, o que implica em maior tempo para a contagem.
Antes, quando as pesquisas de boca de urna do Datafolha indicavam vitória de Fernando Collor de Mello, o petista disse estar preparado para vitória ou derrota. A pesquisa do instituto indicava empate dentro da margem de erro, então de três pontos percentuais.
Na época, Collor também decidiu manter silêncio até a divulgação do TSE —até as 23h30 do dia das eleições, resultados extra-oficiais colocavam Lula na frente. Naquele ano, as eleições foram tumultuadas. Em nota publicada na imprensa dois dias depois do pleito, o PT denunciou, enquanto aguardava os resultados oficiais, o que via como “procedimentos imorais e ilícitos” usados contra Lula.
No dia seguinte, ele falou à Folha: “Do ponto de vista do resultado quantitativo das eleições, acho que meu adversário ganhou, e isto tem que ser respeitado”, afirmou. “Sou oposição intransigente.”
Desde então, os candidatos derrotados cumprimentam o opositor. Em 2014, mesmo com o posterior pedido de “auditoria especial” dos resultados levado a cabo pelo PSDB, Aécio Neves ligou no mesmo dia da votação para Dilma Rousseff (PT) para cumprimentá-la pela vitória.