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Como atuação de bancos públicos poderia ter evitado recorde de inadimplência no Brasil

A quantidade de empresas inadimplentes no Brasil bateu recorde em 2022. Relatório recente da Serasa Experian mostra crescimento de 8,5% em outubro, na comparação anual, chegando a 6,33 milhões de companhias com operações em atraso. Essa é a maior quantidade já registrada desde o início da série histórica, em 2016.

“Esses números seriam muito menores se houvesse a atuação dos bancos públicos com a oferta de juros a taxas reduzidas, ajudando a gerar emprego e saúde financeira nas empresas”, avalia o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga pontuando que o aumento da inadimplência também reflete a menor capacidade das famílias de pagar contas, por conta da alta de preços.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumido (Peic), encomendada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o índice de famílias endividadas no Brasil chegou a 79,3% em setembro. “O orçamento das famílias de menor renda segue apertado com nível de endividamento alto, bem como os juros elevados, que pioram as despesas financeiras associadas às dívidas em andamento”, destaca trecho do levantamento que observa ainda que 80,3% das famílias que têm renda de até dez salários mínimos estão endividadas – maior patamar já registrado na série histórica da Peic, que teve início em 2010, e a primeira vez com a taxa acima dos 80%.

Papel dos bancos públicos

Fukunaga destaca que, desde 2016, os bancos públicos, especialmente o Banco do Brasil, são cada vez menos utilizados como instrumentos de políticas públicas. “Além de praticar taxas altas na oferta de empréstimos e reduzir a carteira de crédito, se assemelhando aos bancos privados, houve diminuição da atuação nas comunidades distantes, de orçamento voltado para a área social, para a agricultura familiar, para as micro e pequenas empresas, pro micro empreendedor individual, para as cooperativas de produção”, observa.

O coordenador da CEBB lembra que, atualmente, o BB cobra as mais altas taxas de juros no crédito rotativo do cartão de crédito e a segunda maior taxa de juros do financiamento imobiliário entre os cinco maiores bancos do sistema financeiro do país. Neste grupo, o banco também pratica as maiores taxas para financiamento de capital de giro para pessoas jurídicas, a terceira maior taxa para operação de crédito consignado do INSS e de crédito pessoal.

“Esses dados, que estão disponíveis no site do Banco Central, mostram que o BB, que chegou a ser o grande responsável por tornar o Brasil um dos maiores produtores de alimentos do mundo, foi pioneiro a levar crédito e serviços bancários a todas as regiões do país, inclusive às comunidades periféricas e pequenos centros urbanos, dinamizando a economia local, perdeu sua característica de banco público. Esperamos que isso mude no governo do presidente eleito Lula”, pondera.

Fukunaga lembra que, em 2008, diante da crise mundial, o então governo Lula determinou que Caixa e BB baixassem os juros e ampliassem créditos. “Se não fosse essa atuação dos bancos públicos, que colaborou para manter a dinâmica do mercado interno, o Brasil, provavelmente teria quebrado, como vários países. Isso porque, enquanto os bancos privados se retraíam, diminuindo a injeção de crédito na economia, elevando taxas de juros, os bancos públicos injetaram liquidez na economia brasileira”, explica.

Representantes do funcionalismo dos bancos públicos Caixa e Banco do Brasil entregaram à equipe de transição do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva documentos, onde solicitam o fortalecimento do papel das empresas como indutoras do desenvolvimento do país. “Nossa expectativa é que, a partir de 2023, junto à valorização do BB e dos demais bancos públicos, ocorra o aumento de funcionários, impactando inclusive na realidade dos trabalhadores do banco, submetidos a sobrecarga de trabalho por causa do enxugamento de postos”, completa Fukunaga.

Fonte: Contraf.

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