Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo afirma que o governo federal montou um orçamento secreto de R$ 3 bilhões em emendas para garantir apoio de sua base aliada no Congresso. Desse valor, pelo menos R$ 271 milhões foram para tratores, retroescavadeiras e equipamentos agrícolas. No caso de 115 tratores ao preço de R$ 15 milhões, o jornal identificou que apenas 12 deles seriam compradas dentro dos valores de referência do próprio governo.
Segundo o jornal, o Ministério do Desenvolvimento Regional reconheceu em documento que foram os parlamentares, e não a pasta, que definiu a aplicação de R$ 3 bilhões em verbas. Os ofícios com indicações dos gastos partiram de 37 deputados e cinco senadores, entre eles o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a hoje ministra Flávia Arruda (PL-DF), o ex-líder do governo na Câmara, Vítor Hugo (PSL-GO), e o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP). O UOL pediu esclarecimentos à Presidência da República, ao Ministério das Comunicações, à Presidência da Câmara e ao MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional), comandado por Rogério Marinho.
Em nota, o MDR repudiou as acusações feitas pelo Estadão, argumentando que “a lei orçamentária é a principal peça legislativa discutida pelo Congresso Nacional, com ampla divulgação para a sociedade, inclusive por parte desse jornal”. A pasta ainda forneceu um link — paineis.mdr.gov.br — no qual é feita a divulgação da execução do Orçamento.
Já Rogério Marinho disse no Twitter que os recursos das emendas são de indicação do parlamento, começaram em 2019 e eram de conhecimento público. Ele ainda afirmou que parlamentares de oposição também foram contemplados e citou especificamente o senador Humberto Costa (PT-PE).
Em declaração ao Estadão, Costa rebateu o ministro, dizendo que ele omitiu que a verba foi um pedido do então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Mais cedo, Marinho também havia publicado um vídeo sobre a entrega de moradias em rede social e foi cumprimentado por Bolsonaro na sequência.
A oposição destacou que a acusação acontece em meio à falta de insumos para o combate à pandemia de coronavírus. “O tratoraço de Bolsonaro entrará para a lista dos crimes perversos desse governo”, disse a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Bolsonaro conta com o apoio de parcela do agronegócio para sua sustentação política, principalmente em meio à CPI da Covid. Neste domingo (9), ele chamou seus militantes para um ato pró-governo junto com agricultores no próximo sábado.
Ofícios mostram encaminhamento de compras, diz jornal
O jornal O Estado de S. Paulo analisou 101 ofícios de parlamentares a ministérios do governo de Jair Bolsonaro nos últimos três meses. Neles, os congressistas solicitam a compra de produtos e serviços, incluindo equipamentos agrícolas.
O ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) por exemplo, pediu que o ministro Rogério Marinho aplicasse R$ 277 milhões em verbas. O valor é maior do que ele poderia obter em emendas parlamentares, que são limitadas a R$ 8 milhões por ano. Alcolumbre precisaria de 34 anos para conseguir remanejar verbas públicas, portanto, conclui o jornal.
Um deputado de Rondônia pediu a compra de tratores, mas o preço era maior que o triplo registrado. “O governo aceitou pagar R$ 359 mil num trator que, pelas regras normais, somente liberaria R$ 100 mil dos cofres públicos”, diz o Estadão.
Apesar de terem base eleitoral 2 mil quilômetros distante de Goiás, dois deputados da região Norte, um do Amazonas e outro de Rondônia, destinaram R$ 4 milhões para Padre Bernardo (GO), no entorno de Brasília. O dinheiro serviria para adquirir máquinas agrícolas. Mas, pela tabela do governo federal, elas custariam bem menos: R$ 2,8 milhões.
O ex-líder do governo Vítor Hugo disse ao jornal que “não houve sugestão de preços” para os equipamentos. Ele responsabilizou as prefeituras. Alcolumbre negou ter indicado tratores, que seriam usados no Paraná.
Fonte: Uol