Quando Michel Temer, juntamente com a cúpula política do estado do Rio de Janeiro, anunciou a intervenção federal, houve quem aclamasse a iniciativa, principalmente nas redes sociais.
Quem assim age talvez não saiba que a realidade é totalmente distinta. Vamos falar então sobre a intervenção. Quem chega ao Rio de Janeiro deve imaginar que hoje a cidade mais famosa do País está sobre vigilância total, que é possível ver soldados na segurança dos cidadãos cariocas e dos milhares de turistas que passeiam pela cidade diariamente, que os tanques do exército são vistos nas ruas como símbolo máximo da segurança.
Engano. A intervenção federal não é algo complexo e que se estende por toda a cidade maravilhosa. É, na sua essência, uma ação direcionada, pois a mesma só aflige e massacra aqueles que vivem nas comunidades.
Como se diz, esta intervenção é só para “preto, pobre e favelado”, o que demonstra a sua postura de segregação. Nos primeiros dias das ações intervencionistas comandadas pelo Exército, não se viu nenhuma movimentação dos mesmos em locais onde a elite caminha. Ou alguém que esteja no Rio viu forças de segurança fazendo a vigilância da Zona Sul nas avenidas de Copacabana e Ipanema?
O que se viu foram ações preconceituosas que demonstram um caráter horrendo desta operação, que trata crianças de comunidades como criminosas.
É uma ação que coloca o cidadão da favela, esse sim, em estado de vigilância, pois o mesmo passa por um pente fino ao ser registrado para identificação como se todos fossem criminosos.
O preconceito é tão claro que podemos citar o caso da judoca e medalhista de ouro Rafaela Silva, que em tempos de intervenção viveu na pele o que podemos chamar de preconceito institucional ao ser abordada por soldados do Exército em um táxi e ouviu dos militares a seguinte colocação: “Paramos pelo fato de acharmos que tinha pegado ela na favela”.
Isso não seria preconceito? E a violência, será que vai realmente ser eliminado nesses meses de intervenção? Talvez o Rio precise passar por esta intervenção para que o cidadão possa ver que a violência não será combatida jamais com ações preconceituosas e repressivas, a violência é fruto do próprio ser humano e isso faz dela algo impossível de ser eliminada.
Então, o que fazer para neutralizar? O primeiro passo é levar o Estado na sua configuração social para as zonas periféricas dos centros urbanos, pois nesses locais o Estado só se faz presente com seu aparato de repressão.
Ou seja, o que realmente se faz necessário é uma intervenção social que atenda as necessidades de todos os cidadãos, que ofereça aos mesmos condições sociais de se viver plenamente em harmonia social.
E claro, eliminar o combustível da criminalidade, o tráfico de drogas e o único passo para isso é desde já começarmos a debater a descriminalização e a legalização das drogas, pois, como sabemos, isso não será um ato que se fará do dia para noite, mas construído a partir de um debate político social que crie bases para em um futuro termos condições de tirar das mãos dos criminosos o seu principal fator de financiamento.
Enquanto isso, esta intervenção trará como único efeito imediato o massacre social, a construção de um cenário de “apartheid” brasileiro.
Fonte: Carta Capital