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Jovens querem trabalhar, mas não têm oportunidades, diz Dieese

Os jovens que não trabalham foram taxados de geração “nem -nem”, por ‘supostamente’ não procurarem trabalho, morarem com os pais e não estudarem, deveriam ser chamados de geração “sem-sem”, segundo os pesquisadores do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que analisaram o resultado do 3° trimestre de 2018, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento mostra que mais de 11 milhões dos jovens entre 15 e 29 anos (24%), estavam sem trabalho e fora da escola, os chamados “nem-nem”. Mas, a maior parte deles não está na ociosidade. Na verdade, está procurando trabalho, lidando com afazeres domésticos (casa, filhos ou parentes) ou realizando cursos não regulares. Apenas 8% dos jovens não estavam envolvidos nessas atividades.

A ideia de que os jovens estão nessa situação por falta de vontade de trabalhar ou de estudar não se aplica na maior parte dos casos, diz o Boletim “Emprego em Pauta”, divulgado nesta quinta-feira (20), pelo Dieese.

Segundo o levantamento, há evidências de que, em geral, esta é uma condição transitória, como mostram algumas estatísticas sobre o 3° trimestre de 2018.

– Apenas 5% dos jovens disseram que realmente não queriam trabalhar.

– 41% dos jovens sem trabalho e fora da escola tinham procurado ativamente trabalho no mês em que foram entrevistados pelo IBGE.

– 31% das mulheres disseram que não podiam trabalhar porque tinham que cuidar de afazeres domésticos – ou seja, na verdade, elas estavam trabalhando, sem ser consideradas na força de trabalho.

– 6% dos jovens sem trabalho e fora da escola faziam algum tipo de curso ou estudavam por conta própria.

 

Período sem trabalho é transitório

Segundo os pesquisadores do Dieese, é preciso considerar que boa parte desse grupo populacional sem trabalho e fora da escola está em um período de transição entre essas duas etapas, de estudo e de trabalho – momento em que se deparam, ao entrar no mercado de trabalho, com elevada instabilidade.

Cerca de um quarto (24%) dos jovens considerados “nem-nem” no segundo trimestre de 2018 não estavam mais nessa situação no trimestre seguinte, a maioria porque começou a trabalhar.

Se for levado em conta um período maior, a porcentagem de jovens que fica sem trabalho e fora da escola por quatro trimestres seguidos cai pela metade: de 24% vai para 12% (5,7 milhões).

 

Oportunidades desiguais na saída do ensino médio

Ainda segundo a pesquisa, todo ano, aproximadamente 2 milhões de jovens concluem o ensino médio. Do total que estava no 3° ano do ensino médio em 2017, cerca de um terço (36%) não trabalhava ou estudava no ensino regular no início de 2018.

As perspectivas de trabalho e estudo deles têm estreita relação com a origem socioeconômica de cada um. Os que terminavam o ensino médio e pertenciam às famílias de renda menor estavam mais empenhados na busca de emprego do que aqueles de famílias com maiores rendimentos.

Considerando os jovens que terminaram o ensino médio em 2017 e que ficaram sem trabalho e fora da escola no começo de 2018, nos lares mais ricos, a maior parte realizava algum tipo de curso (preparatório, pré-vestibular etc.). 25% dos mais ricos foram para o ensino superior em 2018.

Já entre aqueles de domicílios mais pobres, era mais comum encontrar quem estivesse procurando trabalho. Apenas 5% dos jovens de domicílios conseguiram entrar no ensino superior.

Mesmo entre os que não trabalhavam ou estudavam naquele momento, no grupo de jovens mais ricos, 20% estavam empenhados em algum outro tipo de curso. Nos pertencentes aos lares mais pobres, apenas 8% estavam nessa situação.

Os jovens que terminavam o ensino médio e pertenciam às famílias de renda menor estavam mais empenhados na busca de emprego do que aqueles de famílias com maiores rendimentos. Praticamente metade dos que estavam no 3° ano do ensino médio em 2017 participava do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2018. No entanto, enquanto 32% estavam trabalhando, 15% estavam sem trabalho, fora da escola, mas procurando ativamente algum trabalho. Já entre os jovens de lares mais ricos, os percentuais eram inferiores: 13% e 8%, respectivamente.

“Os jovens de lares mais pobres têm menos oportunidades de continuar os estudos. Com isso, são impelidos a entrar no mercado de trabalho. Mas eles também enfrentam problemas nessa empreitada, já que se deparam com dificuldades para conseguir e manter um trabalho. Essas diferenças explicam, pelo menos em parte, a razão pela qual havia mais jovens sem trabalhar e fora da escola, entre os que estavam terminando o ensino médio. Ou seja, as origens socioeconômicas dos jovens determinam as chances de matrícula no ensino superior e de conquista de trabalho”, traz o boletim do Dieese.

 

Nem-nem ou sem-sem?

Ainda segundo o “Boletim do Emprego” do Dieese, “o problema não são os jovens. Chamá-los de nem-nem traz a falsa sensação de que são eles os responsáveis por uma situação de inatividade que nem mesmo é real, já que a maioria não está parada: está procurando trabalho, dedicando-se a algum tipo de curso não regular ou cuidando dos afazeres domésticos.

Ficar sem trabalho e fora da escola é, em geral, uma situação transitória ou eventual e acontece porque os jovens estão mais propensos a aceitar postos de trabalho precários, sem estabilidade e com alta rotatividade da mão de obra.

 

Eles nem trabalham nem estudam porque, muitas vezes, não há vagas de trabalho disponíveis nem oportunidades para a continuação no sistema educacional – em especial no ensino superior, ainda inacessível para boa parte da população. Muitos enfrentam a falta de recursos financeiros para estudar e até mesmo para procurar trabalho.

As oportunidades de estudo e trabalho não são as mesmas para jovens de origens diferentes. Aqueles de lares mais pobres chegam ao fim do ensino médio com um leque mais estreito de oportunidades e enfrentam dificuldades na transição escola-trabalho.

Aumentar a oferta de cursos profissionalizantes não é uma medida suficiente, já que o mercado não é capaz de absorver toda mão de obra qualificada

Tampouco funcionam soluções como as propostas pela Reforma Trabalhista, que criou modalidades de trabalho com menos direitos e menor estabilidade – como o contrato intermitente e a jornada parcial. Em vez de resolver o problema, esse tipo de contrato cria vagas de curta duração, o que pode jogar os jovens continuamente de volta para a condição de desemprego.

A situação da juventude reflete, portanto, a falta de oportunidades e a desigualdade. A solução, muito mais do que uma responsabilidade individual, está na retomada do crescimento da atividade econômica e na valorização de políticas públicas de emprego que promovam trabalhos formais e estáveis; e de educação, visando ao acesso e à permanência dos jovens na escola, levando em consideração a realidade dessa população”.

Fonte: CUT.

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