Mostrando sua defesa escancarada de um modelo educacional elitista, excludente e racista, onde a imensa maioria da juventude trabalhadora, negra e pobre está excluída das universidades – e a maior parte dos que têm acesso a elas está nas universidades privadas, pagando pelo que deveria ser um direito – o Ministro da Educação do governo Bolsonaro deu uma entrevista ao Valor.
Na primeira entrevista desde que foi indicado ao cargo em novembro do ano passado, Ricardo Vélez Rodríguez deixou claro que sua missão à frente da pasta da educação é aprofundar o elitismo das universidades, que, apesar de bancadas pelos impostos de todos os trabalhadores, devem atender apenas a uma ínfima parcela da população.
Segundo o ministro, “a ideia de universidade para todos não existe”, e o modelo que defende é o de que “as universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual”. Deixando ainda mais evidente seu elitismo e a defesa do modelo excludente que sempre vigorou no Brasil, Rodríguez comentou que alguém que se forma em direito mas trabalha como motorista de Uber não deveria ter tido acesso ao ensino superior: “nada contra o Uber, mas esse cidadão poderia ter evitado perder seis anos estudando legislação”.
Ou seja, ao invés de assumir que quer impedir que as pessoas tenham direito à educação, o ministro pretende dizer que os trabalhadores que serão explorados – muitas vezes atingidos pelo desemprego nas suas áreas de formação – não devem “perder tempo” estudando.
Ele afirmou ainda que pretende “reequilibrar” os orçamentos das universidades, um eufemismo para reafirmar que pretende seguir a linha de cortes na educação que se iniciou no segundo governo Dilma, se aprofundou drasticamente com Temer, e que com Bolsonaro deve atingir seu ápice.
Acabando com a permanência estudantil, contratação de funcionários técnico-administrativos e docentes, arrochos salariais e cortes em bolsas e pesquisas, o governo Bolsonaro pretende reservar as universidades públicas a uma parcela cada vez menor da população, filtrada por meio do elitista filtro social que é o vestibular (agora com direito ao crivo ideológico da extrema direita), enquanto beneficia os grandes empresários da educação que faturam bilhões com as mensalidades das instituições privadas, que na maioria das vezes se tornam a única opção, quando muito, para milhões de trabalhadores e seus filhos – em particular a juventude negra.
Além da defesa da exclusão, o ministro também entrou na seara dos ataques ideológicos de extrema direita à educação, criticando a suposta “ideologia de gênero”, ou seja, a educação sexual e de gênero nas escolas. Questionado sobre o que sustentaria essa visão de que as crianças são doutrinadas sexualmente nas escolas, o ministro desconversou dizendo que essa pauta não o interessa, mas reafirmou a convicção de atacar os professores dizendo que “se houver demanda da sociedade, vamos discutir”.
A primeira prioridade de Rodríguez à frente da pasta deverá ser o programa Alfabetização Acima de Tudo. O projeto ficará sob responsabilidade de Carlos Francisco de Paula Nadalim, secretário de alfabetização. Sua principal “qualificação” para o cargo é a gestão da escola de sua própria família em Londrina, chamada “Mundo Balão Mágico” e a produção de vídeos na internet criticando os principais pedagogos brasileiros, como Paulo Freire e Magda Soares. Nadalim é um adversário do método construtivista de alfabetização, onde os alunos são alfabetizados em um contexto significativo, e defende o arcaico método fonético, baseado em sons e associações sonoras.
O que se torna mais claro a cada dia é que a combinação do governo Bolsonaro na área da educação é manter intactos e reforçar os principais pilares de uma tradição elitista, racista e excludente, em benefício dos empresários da educação, enquanto traz como “novidade” os aspectos ideológicos mais reacionários para tentar fazer das escolas um antro de propaganda da extrema-direita e dos valores morais dos mais conservadores setores à frente das grandes empresas da fé.
Fonte: Esquerda Diário.