A historiadora Maria Aparecida de Aquino, professora da Universidade de São Paulo (USP), aposta que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) vai ter uma “oposição cerrada”. Isso porque, na opinião da pesquisadora, o “erro fatal” do presidente eleito de extrema direita é subestimar a força dos movimentos populares.
Em entrevista à Rádio Brasil de Fato neste domingo (28), Aquino afirmou que o povo brasileiro sempre teve “tradição de luta”.
“O povo, desde a Colônia, sempre esteve nas ruas”, afirma a historiadora. “Só para ficar na mais recente, a tradição que iniciou com o regime militar foi extremamente forte. E também a resistência que tem se formado nos últimos anos após o impeachment de Dilma Rousseff, que foi incorporando cada vez mais na sociedade”, analisa a professora.
“Ele perceberá que os movimentos são muito fortes e infiltrados na sociedade. Eles estão entranhados na sociedade e temos a tradição de luta”, afirma. “A história oficial sempre tentou mascarar isso. Nós não estamos em 1964. Não será tão simples assim”, pontua.
O plano de governo de Bolsonaro, eleito neste domingo (27) com 55,13% dos votos válidos, propõe transformar movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em terroristas.
A professora pontua a necessidade de construção de uma “frente ampla democrática e de vigilância”, com apoio de setores de esquerda e progressistas que apoiaram a candidatura de Fernando Haddad (PT) no segundo turno.
Sobre o número de abstenção entre os eleitores, a historiadora afirma que os 31 milhões de brasileiros que deixaram de votar representam um movimento de “recusa da política”. Além disso, o fenômeno levou muitos novatos “não políticos” serem eleitos.
Aquino também pontua que o fenômeno se somou com uma campanha difamatória contra o Partido dos Trabalhadores (PT). “Confundiu-se o antipetismo com antipolítica”, pondera.
No entanto, a historiadora aponta que o fato de o PT ter elegido a maior bancada do Congresso Nacional e ter chegado ao segundo turno revela que o partido tem apoio social. Para ela, o bom resultado do partido no Nordeste mostra que “a memória foi representada na urna”.
Confira aqui a entrevista para Rádio Brasil de Fato
Fonte: Brasil de Fato