O diretor de mercado de capitais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Marcos Pinto, renunciou ao cargo na noite deste sábado (15), um dia após ser nomeado. Em carta ao presidente do banco, Joaquim Levy, Pinto afirmou que a decisão foi tomada em decorrência das pressões exercidas por Jair Bolsonaro (PSL). O capitão reformado chegou a dizer que, se Levy não demitisse o diretor, ele próprio estaria com a “cabeça a prêmio”. Na manhã deste domingo (16), o próprio Levy solicitou seu desligamento do BNDES.
Segundo Paulo Guedes, ministro da Economia, o que angustiava Bolsonaro era a presença de nomes “ligados ao PT” na entidade. Levy foi ministro da Fazenda durante o governo Dilma Rousseff (PT), em 2015. Pinto atuou como assessor da diretoria e chefe do gabinete da presidência do BNDES em 2005 e 2006, durante o governo Lula. Naquela época, também participou da criação do Programa Universidade Para Todos (ProUni), projeto que concedeu 1,2 milhão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica em instituições privadas de ensino superior em dez anos.
“É com pesar que entrego essa carta, logo após ter tomado posse, mas não quero continuar no cargo diante do descontentamento manifestado pelo presidente da República”, explicou Marcos Pinto em carta a Levy. “Dada minha experiência, achei que poderia contribuir para implementar as reformas econômicas de que o país precisa”, finalizou.
O ex-ministro da Fazenda, por sua vez, enviou sua solicitação de desligamento a Guedes e agradeceu aos diretores e funcionários do banco.
A pressão feita por Bolsonaro, que provocou a crise no alto escalão do BNDES, foi feita via imprensa. No momento em que deixava o Palácio da Alvorada, em Brasília (DF), e se dirigia à Base Aérea para viajar ao Rio Grande do Sul, o presidente concedeu entrevista a jornalistas que ali estavam. Utilizando os repórteres como interlocutores, disse que estava “por aqui” com Levy e questionou sua lealdade.
“Demita esse cara [Pinto] na segunda-feira, ou eu demito você”, disse Bolsonaro aos jornalistas, reproduzindo uma ordem que teria dado ao ex-ministro da Fazenda.
O rompimento de um legado
Em entrevista recente ao Brasil de Fato, Luciano Coutinho, presidente do BNDES entre 2007 e 2016, explicou que os dogmas econômicos que orientam o governo Bolsonaro podem levar a uma crise no setor de financiamento de longo prazo para os projetos de infraestrutura no Brasil. Segundo ele, o presidente e sua equipe deixaram claro desde a campanha que pretendiam fazer mudanças radicais nos rumos do banco, o que implicaria romper imediatamente com a tradição dos governos PT – que apostavam no Estado como indutor do desenvolvimento nacional.
“A crença de que o mercado financeiro proverá todas a soluções de financiamento e de que o BNDES deve ser radicalmente reduzido acarretará um imenso retrocesso para o desenvolvimento do Brasil. Parece inacreditável, mas o ministro Paulo Guedes e sua equipe ignoram que as transformações do capitalismo contemporâneo, dominado pelo grande capital financeiro, conduzem ao aprofundamento da desigualdade social e da exclusão”, disse Coutinho em abril.
No primeiro trimestre de governo de Bolsonaro, as consultas por empréstimos no BNDES somaram o total de R$ 8,3 bilhões. No mesmo período do ano passado, o total foi de R$ 14 bilhões – mesmo com os cortes promovidos por Michel Temer (MDB).
Em 2013, penúltimo ano de governo Dilma Rousseff (PT), o Brasil teve superávit de US$ 3,5 bilhões de dólares na balança comercial em serviços de engenharia graças ao BNDES, segundo artigo de Juliane Furno, doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os substitutos de Marcos Pinto e Joaquim Levy ainda não foram definidos. Acompanhe a repercussão e confira em breve mais informações no Brasil de Fato.
Fonte: Brasil de Fato