A crescente onda de pedidos de demissão no Brasil, que para muitos poderia parecer um sinal de liberdade e escolha, é, na verdade, um reflexo direto da precarização do trabalho intensificada pela reforma trabalhista aprovada em 2017, durante o governo Temer. A nova legislação rebaixou salários, escancarou a terceirização, ampliou jornadas e cortou direitos históricos. De lá para cá, o cenário de instabilidade, medo e informalidade cresceu.
A situação piorou com o governo Bolsonaro e a pandemia. Manter-se empregado era uma necessidade. Dependentes da renda para sobreviver, muitos trabalhadores aceitavam o acúmulo de funções e jornadas extenuantes, às vezes sob a ameaça de que “se você sair, tem outro para ocupar o lugar”. O abuso se intensificou com o desmonte dos direitos.
Agora, com a retomada da democracia social, o controle da inflação, melhora na economia e maior oferta de empregos formais, o desequilíbrio começa a ser enfrentado. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que, só em janeiro deste ano, 37,9% dos desligamentos foram a pedido do trabalhador. Um número expressivo, especialmente considerando o histórico recente do país.
A maior parte dos que decidiram “pedir para sair” está no comércio — setor com carga horária pesada (regime 6×1) e baixos salários. Entre os que pediram demissão, 45% têm ensino superior completo ou incompleto, 42% têm entre 17 e 24 anos e 40% são mulheres. Os dados revelam quem está deixando os empregos e quem mais sente os efeitos da precarização.
Em uma sociedade com raízes na escravidão e na exploração da força de trabalho, o aumento dos pedidos de demissão pode ser um sinal de que os trabalhadores começam a dar um “basta”. A democracia social e o fortalecimento das políticas públicas de geração de emprego são, agora, o que torna possível imaginar e construir relações mais justas.
Fonte: Bancários Bahia.