O Brasil registrou nesta quinta-feira (10) mais 2.504 mortos por covid-19 em um período 24 horas – entre as 16h de ontem e as 16h de hoje. Com o acréscimo, o país chega à triste marca de 482.019 vítimas do novo coronavírus desde o início da pandemia, em março do ano passado.
A informação é do boletim diário do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). O período também foi marcado por um número elevado de contaminações notificadas pelos estados, que somaram 88.092 novos casos. O histórico do surto de covid no Brasil acumula 17.210.969 brasileiros infectados pelo Sars-CoV-2.
Enquanto a pandemia volta a dar sinais de crescimento, após dois meses de relativa “estabilidade”, mas sempre em patamares elevados de casos e óbitos, o presidente Jair Bolsonaro segue agindo contra o combate ao vírus.
Também nesta quinta, contrariando as indicações da ciência, Bolsonaro anunciou que deu ordem para que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, suspenda a obrigatoriedade do uso de máscaras por quem já tiver sido vacinado ou contaminado.
“Queiroga vai ultimar parecer visando desobrigar uso de máscara de quem estiver vacinado ou já tenha sido contaminado”, disse, durante um evento do setor do turismo.
O Brasil é o segundo país com o maior número de mortos por covid-19 no mundo. Mesmo assim, a postura de Bolsonaro foi, desde o início do surto, de ignorar a ciência, promover aglomerações, tentar impedir medidas de isolamento social e de proteção pessoal, sabotar a aquisição de vacinas e esconder mentirosamente a gravidade da covid-19.
A decisão de Bolsonaro contraria recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Primeiramente, “ignora” que pessoas que já foram infectadas pela covid-19 podem ser reinfectadas. Já sobre as vacinadas, “esquece” que os imunizantes não impedem a transmissão do vírus. Além disso, o Brasil tem baixo índice de vacinação, são pouco mais de 10% os vacinados com duas doses. Ou seja, ainda é grande a vulnerabilidade da população brasileira ao coronavírus.
A biomédica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19, demonstrou espanto com a postura do presidente.
“Temos uma lei federal sancionada para o uso de máscaras. Sério, não há possibilidade de isso ser cogitado nesse momento. Nós não somos os EUA, que estão vacinando em massa e com um cenário bem diferente do nosso. Nós não somos Israel ou outros países europeus que já estão em outro cenário da pandemia”, disse.
Ela fez referência a dois países que já vacinaram mais de 50% da população, e apenas os vacinados não precisam usar mais máscaras.
Ao contrário do que prega Bolsonaro, o caminho é inverso. O fim do uso de máscaras em um cenário de descontrole da pandemia com tendência de crescimento de casos e mortes, como é o caso atual, pode até mesmo desencadear mutações virais.
Isso significa risco sanitário para todo o mundo, já que o Brasil pode intensificar sua posição de “celeiro” de novas cepas e variantes – mais agressivas e mais transmissíveis – do vírus Sars-Cov-2.
“Certamente temos um caminho até lá (superar a crise), e para que a gente o trilhe da forma mais segura e estratégica possível, precisamos que, além da vacinação, medidas como uso de máscaras e distanciamento físico sejam adotadas por todos”, reforça a Rede Análise Covid-19, em comunicado expresso horas antes do anúncio negacionista de Bolsonaro.
O líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ), lembra que a obrigatoriedade do uso de máscara é uma recomendação das autoridades sanitárias. E que foi transformada em obrigação por lei aprovada pelo Congresso.
“É inacreditável que, mesmo com o país tendo mais de 2 mil mortes de covid-19 na véspera, o presidente continue se dedicando a boicotar as medidas de enfrentamento à pandemia do coronavírus”, criticou Molon.
“Usaremos todos os recursos cabíveis, no Legislativo e no Judiciário, para impedir mais este absurdo. O uso de máscara salva vidas, e boicotar isto é trabalhar pela morte do nosso povo.”
Fonte: Brasil de Fato.